Casa Pequenina

Uma casa pequenina, no alto da montanha. Com janelas grandes e cortinas coloridas balançadas pelo vento. Uma porta larga e alta, feita de madeira e pintada de azul, bem forte, bem vivo, as cores céu. Uma casa pequenina, cercada de árvores e animais de várias espécies; cavalos, bois, vacas, galinhas e carneiros. Sem contar os mais variados exemplares de pássaros, que cantavam o dia todo, sem parar.

Nessa casa morava uma menina, de cabelos loiros e de baixa estatura, sorriso grande e olhos bem vivos, atentos. Eram somente ela e a avó, de cabelos brancos que ficava parte do dia a balançar em uma cadeira de madeira, indo para frente e para trás. Ela pouco falava. Ficava ali a tricotar toalhinhas de mesa e casacos para os netos que há muito tempo não a visitavam.

Eles não gostavam dela. No entanto a neta mais nova, de corpo se desenvolvendo e no início de sua juventude, dava total atenção a avó. Era ela quem cuidava da velhinha, fazendo comida, limpando a casa e dando banho todas as vezes que a anciã não conseguia.

Chegava a hora do jantar. Na mesa redonda uma toalha feita com restos de lençóis, duas canecas de barro e dois pratos manchados. Dona Felicidade esperava sentada, a neta de avental segura firmemente uma panela amassada que fumegava. Dentro da panela arroz e carne. Pratos cheios. Patrícia sentou-se à mesa, serviu a avó depois se serviu, ajeitou um guardanapo na avó e puxou a cadeira para sentir-se mais confortável.

As duas comeram e conversaram. Mais uma vez Felicidade falou dos filhos e dos netos que não iam visitá-la. Patrícia contou de o sonho de um dia ser professora e trabalhar em uma escola bonita no centro de uma grande cidade. Patrícia levantou da mesa e começou as organizar as coisas. Botou a louça na pia, pegou uma esponja e cantarolando lavou peça por peça. A avó ainda sentada assistia a neta.

Anos se passaram. Dona Felicidade havia se mudado para o planeta das pessoas eternas. Patrícia estava agora em uma sala de aula cheia de crianças baderneiras. Mas ela não ligava, era a hora do recreio. De uma bolsinha tirou uma maçã e um foto pequenina de Dona Felicidade. Patrícia fixou o olhar naquele minúsculo retrato, a única lembrança que sobrara da avó.

Felicidade morreu sem realizar o sonho de rever os filhos e netos. Patrícia conseguiu ser professora. Pobre daquele que não sonha pensou ela; e pobre daquele que não deixa você realizar seus sonhos.

FIM....

Fernando F Camargo
Enviado por Fernando F Camargo em 31/08/2021
Código do texto: T7332613
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