Rainha do Rodeio
Dona Cleyde recebeu o convite; “Nossa! Há quanto tempo não me convidam para nada. Deve ser para algum chá de bebê ou um bingo beneficente”, pensou.
Pensou errado! Ao abrir o envelope, lá estava com todas as letras e em maiúsculas; CONVITE ESPECIAL – O 70º Rodeio Anual da Princesa do Litoral tem o prazer de convidá-la para o Baile de Peão de Boiadeiro do presente ano. Favor comparecer à moda típica. No baile serão homenageadas as ex-rainhas e a convidada foi nossa Princesa em 1960 e Rainha no ano de 1961.
Cleyde foi até o guarda-roupa. Sim! Guardara com carinho o vestido e a faixa de Rainha/1961. Naquele baile conheceu Clóvis, o peão vencedor do grande torneio e deu no que deu; Casório! Cleyde voltou no tempo...
Na década de 60 os concursos eram a forma de mocinhas sonhadoras e sem estudo arrumarem maridos que prestassem; seu casamento durou quinze anos. Clóvis teve a morte certa, pois sempre dizia; - “O marinheiro quer morrer no mar, o pescador lançando a rede e um pão de boiadeiro montado em seu cavalo em pleno rodeio. ” Seu desejo foi atendido pela metade; não morreu em cima de um ginete e sim, pisoteado por um touro na arena lotada... A notícia saiu no jornal.
O bom do convite é que encontraria as outras ex-rainhas e ex-princesas. Dita Esmeralda era dois anos mais velha, mas só foi rainha em 1964. Um fazendeiro por quem andava enrabichada comprou os jurados. Das antigas só restavam ela, Dita Esmeralda e Anita Lambisgoia; as outras o mundo esqueceu ou elas se esqueceram do mundo.
Alisou a faixa amarelada; estava linda naquela noite antiga.... Uma semana antes do baile completara dezoito anos... Meu Bonje! Tenho agora 71 anos... Tomara que ninguém lembre! Ah, tanto faz! Direi que estou na melhor idade e está resolvido o assunto... Experimentou o vestido, colocou a faixa e foi se espiar no espelho da sala. Uma idosa parecendo ridícula com aquela faixa amarelada transpassando o peito. Fechou os olhos rasos d’água; O tempo foi cruel! A juventude e a beleza são efêmeras. Como dói se achar feia e velha.... Ficou tonta.... Fechou os olhos.... Abriu.... Agora a imagem refletida era a de uma garota de dezoito anos, coração palpitando... Clóvis a enlaçou e a sala da casa era um grande salão iluminado.... Dançaram e a sala se transformou em um imenso prado.... Estava na garupa do cavalo de Clóvis... O cavalo possuía asas e foi voando, voando para além das montanhas.... Estava feliz.
O jornal publicou uma nota; “Faleceu na Princesa do Litoral, aos 71 anos de idade, a senhora Cleyde da Silva, seu corpo foi encontrado trajando as roupas típicas das concorrentes aos concursos de rainha de rodeio, com a faixa de vencedora do ano de 1961 e uma velha tiara de latão sobre a cabeça. Causa da morte; emoção. ”
Gastão Ferreira/2014