Cunhã-Porã

(Moça bonita)

No município de Iguape, um pouco antes da Costeira da Barra, nas proximidades do Prelado, sobrevive uma lenda urbana anterior ao descobrimento; é a história de Cunhã-Porã, que em tupi-guarani significa “moça bonita”. Seu nome real se perdeu na memória dos homens, dizem os antigos que ela foi a primeira caiçara que o mar levou para o seu reino encantado.

Há aproximadamente dois mil anos que os povos indígenas, vindos das terras paraguaias e do Planalto Central se estabeleceram no litoral de Pindorama, e é dessa época remota que nos chega a lembrança de Cunhã-Porã.

Naquele tempo, Tupã era cultuado e temido; Senhor do Raio, tinha uma estranha preferência pelo Costão da Juréia. Mal se anunciava uma tempestade e lá estava ele jogando os seus raios contra a montanha. Apesar de Pindorama ser banhada pelo mar, os indígenas não cultuavam os deuses ligados a água salgada, talvez que o motivo seja que os deuses marinhos são gregos na sua origem, e os filhos de Poseidon há muito estavam de olho nas belas índias morenas.

Nessa arte de atirar raio, mal aparecia uma nuvem de chuva, Tupã acabou notando uma linda Cunhã; a menina moça não deu a mínima ao poderoso Pai de Todos, e começou a perseguição, pois se tem uma coisa em que os deuses antigos foram muito bons, foi em perseguir os simples mortais, quando apaixonados. Numa dessas escaramuças, a curumim entrou no mar e foi levada por um deus marinho para as profundezas do oceano.

Tupã não deixou barato, e para não guerrear com os deuses raptores, exigiu que a Cunhã-Porã passasse um tempo em terra firme, caso ela não o fizesse, todos os rios seriam desviados e o mar não mais receberia as água doce de Pindorama; assim ficou acertado que sempre, antes de uma tempestade, Cunhã-Porã caminharia pela branca areia da Jureia, e após a chuva de raios cessar, poderia voltar ao fundo do mar.

Antes do descobrimento, era comum os relatos de avistamento de uma moça andando na praia, prenuncio de uma grande tempestade. Os nativos sabiam, que mesmo o céu estando claro e límpido, se alguém avistasse Cunhã-Porã, o tempo virava de uma hora para a outra, e era uma chuvarada das pesadas, com muitos raios e trovões.

O tempo passou, os índios desapareceram, Tupã foi posto de escanteio, mas, nas praias do Prelado, nas brancas areias da Jureia, a Moça Bonita vez por outra é vista caminhando envolta em luz no quebra-mar, anunciando a tempestade que se aproxima.

Na atualidade muitos turistas relataram que notaram uma mulher de longos cabelos negros andando sozinha na beira da praia, e ao observarem novamente, o vulto desaparece; dizem que são os extraterrestres que estão entre nós, gente de outros planetas nos visitando, pois em torno da figura há uma luz forte que a envolve totalmente.

Os nativos, os caiçaras, os pescadores, ouvem os relatos dos turistas e sorriem; eles sabem que é a Moça Bonita, a Cunhã-Porã que veio anunciar a iminente tempestade. Hora de amarrar as canoas, recolher o material de pesca, fechar janelas, deligar aparelhos elétricos, Tupã, o Pai de Todos ainda é o Senhor do Raio, e tem um fraco pelas terras da Jureia.

Gastão Ferreira/2018

Gastão Ferreira
Enviado por Gastão Ferreira em 13/08/2021
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