As visagens do Itaguá
Próximo à cidade de Iguape, a margem do lagamar e em meio a densa Mata Atlântica, existem as ruínas do Itaguá. Em tupi, itaguá significa o lugar aonde os pássaros se alimentam de argila salitrosa (Itaguá= itaguaba= a comida de pedra). A construção antiga guarda muitos segredos; alguns afirmam que na sua origem seria um seminário jesuíta. O que se sabe é que foi sede de um engenho, e que os escravos maltratados, trucidaram o proprietário e toda a sua família, sendo que apenas uma cativa conseguiu escapar. O último proprietário foi um padre que abandonou a batina e se casou com uma beata rica, o romance foi breve; o padre morreu e o lugar foi abandonado.
Os jesuítas foram expulsos do Brasil em 1759, então o Itaguá tem aproximadamente 260 anos. Conta a lenda urbana que muito ouro foi escondido nas grossas paredes do casarão. Muita gente sonhou com tesouros enterrados no prédio; resultado? Buracos e mais buracos. Alguns viventes juram que à tardinha, um homem vestido de preto aparecia por lá, indicando onde estava escondido o tesouro, mas o ouro teria que ser retirado à noite; nenhum corajoso compareceu, o que leva a crer que o ouro ainda está por lá.
Faz tempo que não se tem notícias do homem de preto, na atualidade uma estrada passa frente as ruínas; os antigos moradores das vizinhanças relutam em transitarem pelo local após o anoitecer. Várias pessoas relataram o aparecimento repentino de um homem vestido de branco; a visagem sai do mato e adentra as ruínas. O caiçara apavorado se põe a correr, e só para na pracinha do Morro do Espia.
Há mais de trinta anos, um conhecido se deparou com o homem de branco; eram duas horas da manhã, o rapaz vinha da Toca do Bugio para a cidade, o susto foi tanto que nunca mais passou depois da meia-noite pelo local. Há alguns dias fiquei sabendo que dois pescadores passaram pelo mesmo assombro; se depararam com o homem de branco bem nos baixios do Itaguá. O homem de branco saiu da mata e se postou no meio da estrada, depois veio em direção aos dois caminheiros, que apavorados se escafederam morro acima.
O homem de preto, e o homem de branco; duas visagens diferentes no mesmo local. Será que o ouro guardado pelo homem de preto foi encontrado? Ele nunca mais apareceu! O que será que o homem de branco quer mostrar? Até hoje ninguém teve coragem suficiente para seguir o homem de branco, e anotar o lugar exato aonde está o seu tesouro; quem se habilita? Qual o valente que se propõe à passar uma noite no Itaguá, e encarar frente a frente o homem de branco? Quem viver verá!
Gastão Ferreira/2017