ANASTASIUS
Vivera em uma ilha do Sul junto à sua família tradicional, onde seus antepassados viveram numa longínqua ilha grega. Devido uma situação econômica muito precária do século XIX, em que aquela ilha grega estava vivenciando, eles resolveram emigrar para outras terras do continente Sul-americano. Primeiramente aportaram no Uruguai, depois Argentina e finalmente numa Ilha do Sul. No novo eldorado, fincaram raízes trazendo consigo sua rica cultura helênica.
Com o crescimento de seus negócios, a pacata cidade crescera necessitando que outras famílias viessem se juntar aos demais. Seus pais se preocuparam em preparar seus filhos para o futuro, dando oportunidades para que eles estudassem e quem sabe darem continuidade a seus negócios. Entre seus descendentes, nascera o pequeno Anastasius, benção que Deus ofertara a seus pais e avós. Fora batizado no ritual bizantino conforme o costume e a cultura religiosa de sua comunidade. Crescera acompanhando os negócios de sua família. Na adolescência pensara em seguir a carreira sacerdotal por influência de sua tia e do pároco de sua igreja, por outro lado o desejo de seu pai era vê-lo a frente de seus negócios, pois além de Anastasius, ser um jovem inteligente e capaz, ele estava sendo preparado para tal função. O jovem decide seguir os conselhos de seu pai e paulatinamente vai se inteirando dos assuntos da empresa.
Certa vez numa viagem a negócios, Anastasius conhece uma bela jovem de ascendência germânica. Quando seus olhos se encontraram, seus corações sentiram-se flechados pelo cupido, amor à primeira vista. Fizeram juras de amor um para o outro se comprometendo a viverem juntos para o resto de suas vidas. Anastasius voltara para casa feliz e ao mesmo tempo ansioso para dar a boa nova a seus pais, pois conhecera o grande amor de sua vida e com ela desejava formar uma nova família a fim de dar continuidade a descendência helênica nesta Ilha do Sul. Tinha certeza de que Deus e São Nicolau iriam abençoar a união do casal, porém havia uma preocupação, pois nos últimos dias seus pais comentavam com ele já estar na hora de escolher uma noiva entre tantas donzelas que havia no seio de sua comunidade.
Durante o percurso de volta para casa, a euforia de Anastasius para contar a novidade fora se dissipando, pois vinha a sua mente o orgulho e respeito de seu pai quanto manter viva a cultura de seu povo, não tinha tanta certeza de sua aprovação. Chegara à conclusão de que seria mais prudente adiar a conversa com a família, manteria a relação em sigilo na certeza de que no momento certo revelaria a todos seus propósitos. O tempo fora passando, uma angústia surgindo e sua mãe atenta a cada passo dado por ele, imaginava o que estava acontecendo ou por acontecer. As viagens para a cidade de sua amada fora aumentando cada vez mais chamando a atenção de seus pais e ele sem mais argumentos resolve revelar a família, sua história de amor.
Os três sentados num belo conjunto de sofá azul escuro, tendo ao fundo um belo aparador de madeira entalhada e sob ele um vistoso vaso de porcelana contendo rosas de várias tonalidades embelezando a sala de estar. Ele nervoso, relata toda a história para os seus pais. Onde e como a conhecera, seus sentimentos, seus projetos futuros. Um casamento malsucedido que ela tivera, mas que, para ele não tinha importância, afinal já era passado, o importante era construírem um futuro juntos onde pudessem vivenciar todo aquele amor que desabrochava. À medida que Anastasius falava, ele percebia o desconforto de seus pais em especial de seu pai, chegando este a levantar-se do sofá colocando o dedo em riste impondo duas condições: ou ele dava por fim aquele relacionamento evitando macular a família naquela comunidade ou seria deserdado a partir daquele momento. Sem outras opções de escolha e muito magoado, decide manter o relacionamento e construir uma família longe de sua cidade e de seus pares.
O tempo passara e de seus familiares não tivera mais notícias. Constituiu uma família, mas quisera o destino reescrever uma nova história. Num determinado momento do seu caminhar, a situação financeira agravou-se forçando Anastasius a ir em busca de melhores condições financeiras em outras paragens. Em terras estranhas percebera que o seu potencial técnico profissional não pudera utilizar, pois eram poucas as oportunidades disponíveis em sua área de conhecimento. Necessitando ganhar o seu pão de cada dia, põe-se a trabalhar em serviços gerais onde a maioria dos trabalhadores daquela terra distante conseguiam exercer alguma atividade profissional devido a crise que também abatia aquelas plagas. Devido o ambiente de trabalho ser nocivo a saúde de quem exercia tal tarefa, Anastasius, assim como outros colegas de ofício veio a sucumbir numa tarde ensolarada do verão caribenho. Em terras tupiniquins ficara sua amada esposa e seu rebento, onde, em algumas manhãs ambos caminhavam pelo cais do porto à espera de seu retorno que nunca acontecera. Nas longas noites de sono profundo ele a visitava através de sonhos prometendo voltar a sua cidade para dar continuidade a seus projetos o qual fora obrigado a abortá-lo num passado distante. Estar junto aos seus e ajudá-los é o seu principal objetivo, pois a fé, a solidariedade e a esperança devem seguir de mãos dadas, tanto a nível terreno como a nível espiritual.
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 090821