Paraíso nunca mais
Eva comeu da árvore do bem e do mal, e convenceu Adão à provar do fruto proibido; começou uma terrível tempestade, a primeira que o casal presenciava; - “Adão! Estás ouvindo? Parece uma voz perguntando por você, responde homem.”
- “Adão! Onde está você? Por que te escondes?”
- “Eu estou pelado, Senhor! Estou tentando arrancar uma folha de bananeira para cobrir as minhas vergonhas.”
- “Menos, Adão! Uma folha de parreira já está de bom tamanho. Que aconteceu, guri?”
- “Eva comeu do fruto proibido!”
- “Cacilda! Vou me teleportar para a Árvore da Vida; vamos conversar cara a cara... Venham!”
Eva de cabeça baixa, e Adão tentando ajeitar a folha de parreira se aproximaram da Árvore da Vida, que brilhava; - “Senhor, por favor! Eva não teve culpa, foi uma serpente falante quem a induziu à comer da fruta...”
- “Acabou de comer do fruto do bem e do mal, e já aprendeu a mentir! Onde se ouviu dizer de uma serpente falante.”
- “É verdade, Senhor! Uma cobra me tentou...”, disse Eva.
- “Ah, mulheres! Sempre se enfeitiçando por uma cobra... Apareça, réptil! ... Apareça, eu ordeno!”
A serpente se apresentou; - “Papai, foi apenas uma brincadeira, eu abduzi esta pobre cobra...”
- “Satanás, meu anjo caído, você tem ideia do que fez? O homem e a mulher serão expulsos do Paraíso, terão de ganhar o pão diário com o suor de seu próprio trabalho...”
- “Eles podem mendigar! Sempre dão o que comer aos pedintes...”
- “Não foi à toa que caíste, anjo burro! Eles vão pedir ajuda à quem, seu imbecil, se só existem os dois no mundo?”
- “É verdade! Vão comer o pão que o diabo amassou...”
- “E você, seu demônio, vai junto! Gabriel! Gabriel! Expulse Satanás do Paraíso, imediatamente.”
A serpente abduzida deu uns três botes, e o demônio a abandonou, ficando ela caidaça junto ao primeiro casal, e o Senhor determinou; - “Você Adão, você Eva, e você cobra imunda, estão banidos do Éden.”
- “Senhor! Posso perguntar o que é Éden?”
- “Eva, minha loira! Paraíso e Éden são sinônimos...”
- “Nossa! São sinônimos. Que será que é um sinônimo?”
- “Senhor! Sei que não posso questionar a sua soberania e vontade, tudo bem! Eva comeu do fruto, eu dei uma pequena mordida, a serpente, coitada é inocente, foi abduzida por um demônio, por que expulsá-la do Paraíso?”
- “Não quero esta cobra médium por aqui, vá que apareça mais alguém querendo abduzi-la; o seguro morreu de velho... Fora daqui, os três! Gabriel! Gabriel! Não esqueça de trancar a porta do Paraíso e de jogar a chave fora.”
A serpente, agora completamente muda, nunca entendeu qual pecado cometera, saiu do Paraíso e desapareceu na primeira moita do caminho. Adão e Eva se abrigaram numa caverna; Adão fez alguns rabiscos na parede de pedra, e Eva elogiou; - “Pintura rupestre! E das boas.”
Adão, o primeiro homem, primeiro bicho inteligente; inventou o tijolo, a telha, a panela, o fogo, o churrasco, e milhares de outras coisas. Eva inventou a comida temperada, o esmalte para unhas, tintura para cabelos, e os filhos.
Por falar em filhos; Adão e Eva tiveram dois, na verdade foi Eva quem os teve, Adão foi coparticipante e nada mais. O nome dos meninos era Caim e Abel. Amicíssimos na infância, mas na adolescência algo muito, muito hediondo aconteceu, mas esta é uma outra história.
Gastão Ferreira/2017