UM MECÃONICO

Eu particularmente sou fissurado por carro, em especial os mais antigos. Se eu fosse uma pessoa de posses seria um colecionador de carros, porém como sou um simples aposentado do INSS, me contento em possuir uma Ferrari vermelha de marca Renault, modelo Clio 1.0. para mim é o suficiente pois me leva onde desejo ir sem me deixar na estrada. Tive vários carros nesta minha caminhada, de vários modelos e marcas. O primeiro que eu tive, foi um fusca ano 1966, 1200 cilindradas na cor cinza adquirido de um amigo dos tempos de guri. Foi uma revolução para mim como também um grande orgulho comprar meu primeiro carro. Nele aprendi a dirigir, paguei alguns micos mas foi uma experiência ímpar, isto aconteceu no início dos anos 80. Dentre tantos que eu tive, foram três os fuscas. Primeiro este fusquinha do qual relatei, depois veio um fuscão bizorrão, branco, motor 1600 cilindradas e por último outro fuscão azul de 1500 cilindradas. Mas vou me ater a este bizorrão branco. Certa feita, este possante começou a me dar problemas em sua dupla carburação, o jeito foi procurar um mecânico que me resolvesse tal falha. Visitei duas oficinas na época consideradas as melhores, no entanto nada resolveram.

Certo dia conversando com um amigo a respeito da falha do meu bizorrão, este me indica a oficina de seu amigo, segundo ele, resolve todos os pepinos que aparece em sua garagem. Feliz pela indicação, afinal minha paciência estava no limite, acertamos de no dia seguinte ele me levaria ao tal amigo. No caminho de volta para casa murmurei inconscientemente, se não resolvesse tal falha venderia o possante para o ferro velho do seu Bentinho, local onde quando guri íamos vender sucatas de lata, osso, alumínio, garrafas para fazermos um dinheirinho. Para quem não conheceu, ficava na rua Santos Saraiva na descida do Morro do Geraldo defronte ao Bar Coringa. Para ser mais exato próximo a rotatória da PC3, projeto abortado de uma avenida que iria cortar o continente, da Av. Ivo Silveira até a divisa de São José, em Barreiros, mas deixa para lá, meu assunto é o bizorrão.

No dia seguinte fui apresentado ao mecânico, relatei todos os detalhes da falha o qual ele anotara no papel junto a prancheta. Assunto encerrado, prometera estar pronto o serviço em dois dias. Voltei de carona com o meu amigo e no caminho o questionei quanto a qualidade do serviço porque minha visão espacial do local não fora das melhores no entanto meu amigo afirma para não me preocupar com a aparência, o importante é que ele vai resolver o problema, argumento suficiente para me calar.

Dois dias depois acordei cedo, tomei um táxi e segui para a oficina prevendo já estar pronto o serviço e o branquinho esperando por mim, sabe eu era muito apegado aquele bizorrão, sentia muito ciúme dele. Quando salto do táxi vejo de longe um cachorro fuçando o motor do carro, caí em desespero. Saí correndo gritando com o mecânico e ao mesmo tempo temendo a fúria daquele animal. Passei longe daquele animal, pasmem, ele nem notara minha presença, como estava, ali ficou sem mesmo rosnar para mim, me espantei. O dono da oficina sai de dentro do barracão para me receber de braços abertos todo risonho e eu quase sem nada entender, mas sentindo algo quente descendo nas minhas pernas bambas. Fique calmo meu amigo, ele não morde não, é mansinho. Vamos ver se está tudo funcionando, vamos lá? Eu mais que depressa falei, estás louco me cago de medo de cachorro e além do mais ele já deve ter destruído as mangueiras da gasolina, o filtro. Tu és responsável pelo que aquele animal destruir no meu carro. Tenho muito ciúmes dele. Prenda ele que eu vou contigo. Não seja tolo meu caro, sabes o que ele está fazendo no teu carro? No mínimo está estragando o que era bom, retruquei. Que nada, ele está regulando o carburador do teu carro. Estás me tirando para idiota, perguntei a ele já com misto de revolta e preocupação. O cara me responde que estava falando sério, pois o cão é o seu ajudante mecânico especialista em regular motores. Ainda me disse que a Kombi que estava na garagem, seu motor fora regulado a poucas horas antes de minha chegada. Explicou que confia somente no Dogão, este é o seu nome, por isso não ter mais ajudantes. Me convenceu a ir até o possante, realmente o Dogão é muito dócil e inteligente. Dá para acreditar? Não é devaneio não, eu constatei. E cada um tire sua conclusão.

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 28/08/19

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 05/08/2021
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