O coronel voltou

Nossa vida é uma viagem de aprendizado ao planeta Terra; a evolução espiritual é extremamente lenta. Levamos séculos para aprender que perdoar é a única forma de tornar leve o nosso existir, consumimos centenas de vidas para nos livrar da inveja, do ódio, da maledicência, do desamor.

Desde a mais remota antiguidade o homem tem indícios do que ocorrer após a passagem para o outro lado da vida; todas as grandes religiões do passado nos informaram sobre o destino de nossa alma imortal; Campos Elísios, Paraíso, o Reino dos Mortos, a barca de Rá, Cérbero, o guardião do inferno. A casa de Hades, Letes, o rio do esquecimento, o umbral, os planos astrais...

Entre o ir e o voltar exercemos o nosso livre arbítrio, e a vida nos cobra cada ato, cada vilania, cada crime cometido contra os nossos semelhantes. Quando o coronel Antônio de Alencar Paixão, abandonou o seu barco-vida e partiu endividado para o outro lado, nem por um momento pensou que seus inimigos o aguardavam nos planos invisíveis.

A última estadia material, do coronel Paixão no planeta foi marcada por politicagem, corrupção, libertinagem, perseguição de desafetos, favorecimentos ilícitos, grilagens; o coronel foi uma das causas do atraso reinante por décadas na cidade em que foi o expoente máximo de governança.

Seus filhos seguiram o exemplo do pai e a rapinagem continuou por décadas, todos tirando sustento e luxos da política, da religião, dos cargos públicos; no umbral o coronel ajuntou bandos de seguidores e deu sustentação aos muitos crimes dos seus descendentes.

Novos ventos mudaram o rumo da política, e o sangue dos Paixão não mais vingou; degeneração, doenças, drogas e devassidão. O ouro acumulado de nada valeu, a estirpe do coronel chegara ao fim; nas trevas o coronel não se dava por vencido, precisava voltar com urgência.

O neto drogado conheceu a menina-nóia, e as forças do mal se uniram e o coronel voltou a vida física; será o único herdeiro da fortuna dos Paixão. Num futuro não tão distante tentará se apossar do poder, todos os que o cercam serão seus servidores, desde os pais drogados, aos avós amorais, aos muitos amigos que o seguirão dos planos umbralinos para a vida física.

Pobre cidade que mais uma vez será palco de desacertos, aparentemente o coronel nada aprendeu de bom na última viagem, voltou o mesmo e sedento de vingança; na eternidade do existir, levamos milênios para modificar um único pensamento, nosso destino final é o bem. Ainda somos crianças espirituais, um dia conquistaremos as estrelas e o Universo será a nossa casa, pois, a nossa longa viagem está apenas começando...

Gastão Ferreira/2020

Gastão Ferreira
Enviado por Gastão Ferreira em 02/08/2021
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