SEM PRESSA
Sentia tanta pressa! Enrolava os cabelos e passava batom.
Saía descalça para comprar no armazém da frente de casa miçangas e farinha de trigo para o bolo.
Sempre atravessando correndo, como se o mundo fosse um segundo e à tarde já anoitecesse. Profundo medo de não viver. E viveria?
Aproveitava a água e deixava as costas molhadas. Segurava o relógio e seguia como um raio.
Sentia tanta pressa! Foi comprar o cartão de Natal – restava algum tempo, e uma cartinha... O endereço era desconhecido. Voltou.
A pressa acabou.
Passa o secador nos cabelos, rapidamente. Pinta as unhas durante a madrugada, escutando o canto de um pássaro em cima dos fios.
Faz o colar aos poucos: todo o dia costura Sol e Lua.
Quando entra no Mar, enche-se de conchas...
e caminha sem pressa de lugar algum.
Verônica Aroucha