A Lâmpada Mágica
No interior da Lâmpada, um Demônio (e não um Gênio, como nos induz a pensar a Disney) aguardava ser invocado por um mortal para lhe realizar um único desejo (e não três, como nos induz a pensar a Disney) e finalmente ser liberto daquela prisão milenar, trocando de lugar com quem fizesse o pedido. Essa era a regra desta lâmpada diabólica, forjada no próprio Inferno, e dela não havia escapatória, acreditava o Demônio, que ficou extremamente feliz quando teve sua presença solicitada por uma jovem que esfregou a lâmpada (nessa parte a Disney acertou). Ele a observou atentamente enquanto lhe concedeu o desejo, já imaginando o que faria assim que possuísse seu belo corpo: ia comer banquetes e mais banquetes das mais deliciosas comidas, se embriagar e se entregar à luxúria, às drogas, e depois usar das mais variadas artimanhas para enriquecer. Bastava um único desejo da moça para que isso acontecesse, mas esse desejo deveria ser cumprido ao pé da letra antes.
- Então?
- ...eu quero sumir. Não morrer, desaparecer mesmo. Eu quero nunca ter nascido, eu quero ser apagada da memória de cada pessoa que já conheci, eu quero que todos e tudo que já me viu ou tocou não se lembre da minha existência...
- Mas...
Tarde demais para o Demônio e para a garota. Ele apenas intermediava a realização do desejo, que já começava a ser realizado. Ela se desfez em paz, enquanto ele urrava de dor.
Pela primeira vez em séculos, a lâmpada estava vazia.
FIM