____________NAS GARRAS DO LOBO MAU
 
 
Chapeuzinho Preto era da Matinha, comunidade  periférica da bela metrópole do Rio de Fevereiro. Seu nome real era Dayanne Khristynne, mas o fato de usar sempre um chapeuzinho preto quando saía em missão lhe rendera a alcunha pela qual era conhecida nos meios policiais.

Naquela manhã, a mãe de Chapeuzinho, que nem desconfiava das atividades ilícitas da filha, tinha lhe feito um pedido: levar uma cesta básica para a vovozinha, que convalescia de uma recente internação. Chapeuzinho, sempre solícita, pegou a cestinha, deu partida no velho Fiat Uno — carrinho acima de qualquer suspeita — rumo à comunidade do Morro do Jabuti.

A caminho da casa da avó, Chapeuzinho Preto recebeu uma ligação do Covil. Era Lobo Mau, o chefe, comunicando-lhe que um carregamento de fuzis tinha chegado durante a noite, e ela deveria fazer a entrega da carga no galpão do Caçador — um sujeito muito mal-encarado, que a moça já conhecia de outros carnavais.

Depois de levar a cesta para a vovozinha, Chapeuzinho seguiu para o Covil. Lobo Mau, visivelmente mal-humorado, cobrou dela mais agilidade quando fosse chamada. Foi aí que a moça se estressou, dizendo que andava cansada daquela vida e queria pular fora. Com fúria lupina, o chefe uivou: — Sai! Sai fora e espera pra ver o destino de certa mamãezinha e certa vovozinha!

Chapeuzinho Preto respirou fundo. Pensou mais de duas vezes. Apesar da vida na bandidagem, ela amava a mãe e a avó. Ajeitou os fuzis no porta-malas do Uno e partiu para o QG do Caçador: ela sabia que  silêncio absoluto e obediência cega eram as  leis mais básicas que regiam a Matinha.



Tema da semana: releitura de um conto famoso.