VOLTAR...
Poucas vezes sentira o corpo tão pesado. Cada passo era dado com dificuldade, sendo obrigado a parar várias vezes. Havia decidido voltar depois de muito pensar, muito refletir. Mas o levantar-se, se arrumar e sair foram em um impulso. Este perdia sua força a cada instante. Um mal-estar físico o acometida, suando frio e com a barriga parecendo um caldeirão.
Afim de manter sua decisão, buscava forças na recordação de quando a conhecera, na paz que sentira. Na felicidade de se sentir amado e protegido. No entanto as dúvidas eram horríveis. Praticamente as mesmas que tivera por toda vida só que agora muito mais fortes, muito mais lancinanted.
Amava está vida! Mesmo que não fizesse parte de todas as suas expressões, mergulhava com gosto no estudo e compreensão de todas as facetas dela que podia, tal um antropólogo em uma tribo de índios. Se fosse só isso talvez encontra-se um ponto de mediação.
Só que havia aprontado tanto! Como um porco, voltou a poça de lama mais suja que encontrará e lá chafurdou com gosto! Arrastando seu corpo e sua consciência nos lugares e nos atos mais depravados. A cada passo a imagem ia se tornando mais clara em sua mente. Lá de cima ele sendo apontado:
-Você não é digno de pisar este chão!
Quase por mágica, quando dobrou a esquina, ela apareceu. Enorme, imponente! Dez vezes maior do que se lembrava... A igreja; que há tantos anos abandonara. Toda iluminada, os fiéis entrando, felizes e se cumprimentando. Permaneceu estático, olhando-a. Tremia. Toda coragem que procurara reunir por tanto tempo simplesmente desapareceu. Não conseguia subir nem ir embora. Já ouvia a melodia do primeiro hino sendo tocada.
No seu desespero tentou orar ou conversar com Deus, mas as palavras não se formavam em sua mente. Da sua boca saiam apenas grunhidos sem sentido. Tentou uma oração pronta, o Pai Nosso. Acompanhar os hinos vindos de dentro do prédio. Nada funcionava! Ouvia uma voz clara em seu ouvido que ria e o chamava de patético e hipócrita. Tudo servia para aumentar sua aflição.
Como um raio de luz surgiu o refrão de uma canção do Frank Sinatra em seus pensamentos. Agarrou-se nela e começou a cantá-la, no início baixinho, depois à todos os pulmões, sempre olhando para o céu:
" Let me try again
Deixe-me tentar de novo
Let me try again
Deixe-me tentar de novo
Think of all we had before
Pense em tudo que tivemos antes
Let me try once more...
Deixe-me tentar mais uma vez
...Just forgive me
Me perdõe
Or I`ll die
Ou eu vou morrer
Please, let me try again "
Por favor me deixe tentar de novo
Passo a passo chegou ao portão. Acima, depois das escadas, a porta iluminada da entrada. Degrau por degrau, subiu e entrou.