CLEMENTE E SÃO PEDRO
Durante toda sua existência na terra, Clemente mediava entre a vadiagem e um costume severamente combatido pelo povo: A rapinagem. Cometia, quando alguém era dado a distrações, pequenos furtos, que fizeram dele ladrão contumaz. Não dos violentos, mas aborrecia quem sentia falta de alguma coisa, assim, costumeiro da modalidade de traquinas, leviandade e ousadia, costumeiramente era saco de pancadas da turma do boné, sem, contudo, largar o feio hábito.
Um dia, de forma eletrizante, partiu deste vale de lágrimas após frustrada tentativa de assalto à casa de um eletricista que instalara sofisticado sistema de proteção energizado com elevada voltagem, mantendo a novidade em segredo para os ladrões. Clemente, desavisado só soube da novidade com uma descarga de 3.000 volts, daí que nesse dia acabou por levar a pior, vindo a saber o que lhe ocorrera apenas no outro mundo.
Destinado por triagem a cidadela de Satanás, foi bater às portas das profundezas sendo, contudo, vítima de uma brincadeira que o administrador do inferno, decidido a pilheriar com São Pedro, lhe envia o morador indesejado recomendando em tom festivo:
- Clemente meu caro, é certo que houve um lapso divino tornando sem gravidade suas desastradas gatunagens na terra e eu não sei onde diacho perdi o telegrama de São Pedro reclamando a sua presença lá junto aos bons.
Assim, lhe foi dado o perdão por razões que desconheço de modo que você deverá para sua tremenda sorte bater às portas do céu, onde por certo será com a naturalidade de alguém que para lá e corretamente destinado.
- Mas Seu Diabo. - fala Clemente sem entender - Como pode alguém como eu, depois de vadiar e furtar coisas dos outros ter como prêmio a dádiva de ir parar no céu?
- Ora Clemente, é como loteria lá da terra, difícil, mas acontece, portanto pare de perder seu tempo e vá para onde o destino lhe reserva uma nova chance ao lado do criador. - fala o diabo começando a perder a paciência com o outro que já começava a lhe atrapalhar a brincadeira, na verdade preparada não para ele, mas para São Pedro.
E bate então o ladrão às portas do céu já satisfeito pela
"elevação divina.
São Pedro abre as portas celestes e ao deparar com o ladrão espantou-se. E ainda mais espantado ficou, ao ver nele a expressão daqueles que foram ao lugar certo e que seriam recebidos sem demora e com naturalidade, o que não aconteceu. Contudo para não ser injusto com a "decisão já tomada" esperou o melhor momento de retornar o moço para de onde veio, certo de que ali, definitivamente, não era o lugar do larápio Clemente, e para saber como isso aconteceria chamou São Genaro que ouviu do dono das chaves do céu.
- Genaro, onde achas que está o erro deste infeliz vir parar aqui?
- Ora Pedro, o que te digo sem demora e que não deves permitir a entrada desta alma penada nesta casa divina, que te refresco a memória Trata-se de um vadio e ladrão a vida toda e ele próprio sabe disso.
- Mas Genaro, porque ele veio ter-me à porta quando seu destino é outro?
- Por certo, mais uma dessas brincadeira do Satanás.
- O que me sugere, mandamos de volta ou tens aí alguma ideia?
- Ora. - Responde São Genaro - Ele é um ladrão e certamente será traído pelas suas tendências, por isso te digo que façamos com ele um teste, que representará uma corda que ele colocará no próprio pescoço vamos colocá-lo na ante sala por dois dias.
- Muito bem.
E São Pedro chamou Clemente e lhe disse:
- Fique naquela ante sala ali pois seu destino é incerto caro Clemente.
Assim, acostumando com a ideia de que o céu seria de fato sua nova morada, Clemente entrou e aguardou a um canto da ante sala junto com outros merecedores de estar ali que não quiseram conversa com ele dada a sua conhecida condição inversa.
Irrequieto passou a andar de um lado para outro onde ficou dois dias e sentou-se num canto longe dos outros.
- São Genaro disse a São Pedro: - Veja, como eu te disse, que ele vai por natureza própria se conduzir de volta ao inferno. Vou jogar essas três chaves num lugar qualquer perto dele e dos outros e assim duas de metal valoroso e outra enferrujada e olhe o que acontece.
E assim procedeu o santo e a chave sem valor era marcada por ferrugem.
Tão logo viu as chaves, instintivamente Clemente as escondeu indo para um lugar onde não fosse visto pelos outros e com sua escolha venal jogou fora a chave enferrujada.
Esquecendo que estava no céu, foi surpreendido pelos dois santos que o admoestaram:
- Que coisa feia Clemente, Disse São Pedro. - Vimos o que você fez. Mas, esqueçamos tudo. Fique com as chaves e me siga. Chegaram diante de uma porta fechada e o santo disse: - Terás uma chance, com Essas chaves que seriam três está a adequada para você abrir essa porta e definir o seu destino, caso não abra voltará para de onde veio.
Clemente olhou as duas chaves em suas mãos e pensou na enferrujada, lamentou não a ter deixado junto com as outras. Pegou a dourada e tentou, nada, depois a prateada, nada. Demorou por instantes tempo suficiente para confirmar que não tinha a chave enferrujada. Nisso a porta se abre por dentro aparecendo o diabo que o puxou.
- Larápio Clemente eu sabia que você faria com que voltar pra cá . Passa pra dentro.
Ainda ouviu o São Pedro dizer numa voz distante.
- A chave Enferrujada que não usaste é Da porta do céu, mas sua sina te fez joga-la fora, como jogou na terra toda sua vida.
Moral: É PERDA DE TEMPO LIDAR COM OS IRRECUPERÁVEIS.