Alzheimer
Ele estava sentando no fim da vila junto aos amigos. Crianças brincando, cachorros latindo, gritaria, risos. Tudo era tão concreto que ele não sabia o que pensar. Perdido em seu próprio mundo, ele gritava em silêncio a saudade do ente perdido. Os olhos brilhando enquanto trazia a memória seus tempos de menino.
Queria proferir as melhores palavras, mas não conseguia verbalizar seus sentimentos, nem traduzir suas dores. Esqueceu da esposa, dos filhos e netos, apenas a mãe estava em sua memória, era por ela que ele chamava incansavelmente, talvez ela o ouvisse do céu. Os moradores da vila ficaram paralisados com aquela cena, achavam que era descuido, que que netos e filhos o tratavam mal, mas ninguém sabia das dificuldades de entendê-lo.
Queria falar, mas havia desaprendido. Tinha fome, mas desaprendera a mastigar. Era cuidado com zelo, mas aquela ida à vila o havia feito reviver emoções que haviam adormecido. Ele, sentado a observar as crianças brincar, incomodou-se com o barulho. Entrou à sua casa, deitou. Adormeceu.
Não sabiam seus filhos e netos que seus olhos não seriam mais abertos. Recuperou os sentidos, lembrou tudo o que se tivera perdido e sorriu ao lado de Deus.