______A Paineira dos Vaga-lumes
A cena deixou perplexo o capataz da fazenda Cruzeiro: uma caneca de flandres com restos de estricnina e dois corpos já enrijecidos sob a velha paineira. Eram Madalena, filha do poderoso coronel Evaristo Santa Cruz, e Matias Rufino, filho do caseiro. Não havia nada a ser explicado. O pacto de amor e morte se clareava nas mãos entrelaçadas que jaziam inertes.
Matias e Madalena se amavam desde que, ainda crianças, caçavam vaga-lumes com tição nas noites escuras do Cruzeiro. Ela era Vaga, ele era o Lume, e de vaga-lume em vaga-lume trataram uma história de amor que haveria de ser para sempre. Mas o destino ditara outros rumos. Prometida em casamento ao filho dos Siqueiras, Madalena foi haver-se com o namorado. Inconformados com a iminente ruptura, os jovens selaram com veneno o antigo pacto de amor.
Do alto da janela do casarão de três andares, o coronel Evaristo contemplava a mata escura. Há um ano do trágico ocorrido, ele pensava na filha. Nunca se perdoara por ter sido causador daquele desatino. De repente, um inusitado clarão elevou-se sobre a paineira, iluminando a noite. Tomado de terror, o coronel sentiu o peito se trancar. Ao longe, a árvore flamejava numa cegante luminescência esverdeada em meio à ilha de escuridão: milhares de vaga-lumes resplandesciam a paineira como a lembrar os amantes mortos.
Dona Catarina escutou o baque. Subiu correndo as escadas e avistou o corpo do marido estirado ao chão do pátio de secar café. Clamou por socorro, mas era tarde. O coronel Evaristo já não podia testemunhar o que vira. Morria também com ele o segredo da paineira dos vaga-lumes.
Tema da Semana: A Árvore do Terror