O TAPA
 

Descia a avenida principal do centro da cidade uma senhora de aparência mediana, na estatura e na idade, bem vestida, com uma linda bolsa segura em seu antebraço esquerdo.
Era o mês de dezembro, de modo que as ruas estavam cheias de carros; e as calçadas, abarrotadas de gentes. As pessoas entravam e saiam das lojas; olhando, experimentando, trocando produto já comprado. A maioria delas, em busca do presente de natal.
Nessa época do ano, por conta da quantidade de pessoas no perímetro central da cidade e, também, pelo grande volume de venda operada pelos lojistas, os responsáveis pelo sistema de segurança aumentam o contingente dos policiais fardados e também das viaturas, nessa área. Por isso, é muito fácil encontrar duplas de policiais militares ou de guardas municipais transitando pelas principais avenidas ou ver o giroflex de uma viatura ligado, em algum ponto estratégico.
Na mesma calçada em que a senhora descia, indo em sentido contrário ao dela, um menino, aparentando uns quatorze ou quinze anos, seguia, olhando perspicaz em tudo a sua volta.
O garoto, ao se aproximar da senhora, agarrou sua bolsa e, num gesto rápido, puxou-a, tomando de seu braço e saindo correndo, rua acima, se misturando entre as pessoas que transitavam ali naquele momento.
Diante daquela atitude repentina, a senhora começou a grita: “Ladrãooo!” “Ladrãooo!” “Ladrãooo!” “Minha bolsa!”
Descendo a mesma calçada, no meio da multidão, numa distância de uns cinquenta metros da senhora, vinha uma dupla de policiais que fazia o patrulhamento daquela área.
Ao ouvirem os gritos da senhora, os dois policiais pararam e ficaram observando o movimento. Logo perceberam o garoto que corria com a bolsa, indo na direção deles.
Um dos policiais agarrou o garoto pela camiseta e aplicou-lhe um tapa no rosto, enquanto o outro tirava-lhe a bolsa das mãos. “Pivete, tá aprontando aqui?”
Com a força do tapa, avermelhou a face do rosto do garoto e ele começou a chorar, olhando para os policiais sem responder nada.
Principiou um tumulto. E os transeuntes começaram a se revoltar contra o policial que tinha desferido o tapa, por acharem que ele não deveria ter agido daquela forma.
Instante depois, a senhora que fora vítima do roubo da bolsa se aproximou da aglomeração para receber o seu pertence de volta, e se deparou com aquele garoto sentado no chão chorando, com o rosto vermelho, diante dos dois policiais. Aquela cena deixou a senhora muito revoltada. Ela disse para eles, em tom bravio:
– Vocês não são pai desta criança para esmurrá-lo!
Enquanto isso, as pessoas iam se tumultuando.
O policial que estava com a bolsa em suas mãos, devolveu-a à senhora e lhe perguntou:
– A senhora quer representar?
– Não. –  disse ela, num tom seco e firme.
– Tudo bem, então. – respondeu o policial.
Enquanto isso, vendo toda essa confusão, o garoto, que estava no chão, foi saindo de fininho e, quando se livrou das pessoas, saiu correndo para o outro lado da avenida, buscando se despistar dos policiais.
A equipe de policiais também foi saindo devagar, tentando se livrar do foco da conversa daquele momento, e continuou o patrulhamento.