O Preço da Vida
Andando pela cidade, com o meu carro, pesquisava o preço de um celular de última geração. Entrei numa loja e comprei também uma camisa da hora, quando pela vitrine vi o mar. E resolvi ir lá, como a procurar por algo, que falta em mim. De repente me deparei com alguns mendigos em revolta, discutindo e se empurrando com certa violência. Parei e meio que inseguro perguntei ao mais calmo, porque toda aquela confusão e ele me respondeu de pronto:
- É por causa do pão moço.
Sem dizer nada pensei, que eles estavam brigando por um pedaço de pão que estava dentro de uma lata de lixo. Aí, a Francesa, fui a uma padaria a duas quadras de lá e comprei dois pães com manteiga e queijo, e um litro de café. Quando cheguei de volta ao local, um estava terminando de comer uns farelos do chão e os outros estavam rindo. Contavam qualquer coisa, como observações da nossa hipocrisia social, do nosso comportamento ridículo nos bares da madrugada a nos estragar na noite, bebendo em excesso, a jogar comida fora, a fumar insandecidamente ou tratar-se com distrato, desvalorizando tudo o que eles valorizavam pelo aprendizado da necessidade.
Sem falar nada interrompi o comentário com o meu gesto. E feito lobos avançaram civilizadamente pegando cada um o seu quinhão. Uns ainda com os pães na boca agradeceram e outros comendo rápido, em seu antropomorfismo só me olhavam.
Sem muita comunicação, pois a desconfiança pairava no ar, apesar do consolo, fui saindo e de longe, ainda observando, vi eles confraternizarem gradativamente. Levantando lentamente, sob o sol, para cada um seguir um caminho, nas ruas de Belém, que direcionavam ao Ver o Peso.
Quando um deles veio para o meu lado, me atrevi e perguntei de novo:
Por que vocês estavam rindo? Ora moço, nós é feliz.
Insisti: Mas vocês não tem nada… Não tem casa, roupa, comida, celular, internet e nem empregos.
- Mas temos Deus.
E ele se saiu sem dizer mais nada. Sem graça e vazio me olhei e pensei:
- Sair de casa para comprar novidades, vi o mar e na resposta, de um mendigo, o remédio para todos os males.