3 desejos

Joana ansiava por um bolo de morango que tinha visto na padaria próxima de sua casa. Não era um bolo qualquer. Poderia meter-se na cozinha, entre farinha de trigo, ovos, fermento e açúcar e produzir um rapidamente, a fim de ter saciado o desejo. Contudo, sabia de sua incapacidade de fazer um igual àquele.

Bem da verdade que não era um bolo inteiro. Era uma generosa fatia. Estratégia de padaria para lembrar ao consumidor do seguinte, "Olha! Se você quiser um maior, encomende! Fazemos para você!".

Era uma fatia de bolo que brilhava pelo glacê branco de um caráter viscoso e húmido. Sua massa interna se deixava mostrar. O trabalho da espátula utilizada para cortar aquela fatia, não danificou a estética daquele pedaço exposto no balcão-vitrine refrigerado da padaria: via-se uma massa macia que tinha no centro uma faixa bege espessa, produto da interação do creme leite com o leite condensado. O morango? Mergulhado naquele bege leitoso e saboroso estava.

Joana por toda a manhã salivava porque a imagem da fatia teimava. Havia o dinheiro, havia a disposição para se deslocar à padaria. Faltava-lhe o tempo: tarefas de seu trabalho, impediram a aquisição do bolo e consequente degustação.

Inverso ocorreu com Estevão, que teve a possibilidade de saciar um desejo que ocorrera.

A visão de um vinho argentino sendo servido em um taça, atiçou em Estevão as papilas gustativas e glândulas salivares. Mas como? Se a cena do vinho servido era aquela visualizada não perto de si, mas, através de uma tela full hd? É o poder da visão que atiça a fisiologia nossa. Que atiça o nosso querer.

Estevão rasga o asfalto com seu último carro. Um porshe. Ao seu lado, uma pessoa por ele querida com a qual dividirá o saciar de seu desejo. Se esta pessoa de fato sente o mesmo furor pelo vinho que ele? Ou melhor: se esta pessoa está realmente com Estevão com a força da certeza ou de modo espontâneo? Que importa! Estevão é consciente da possibilidade dela estar ali por estar, e não estar ali por querê-lo, por amá-lo profundamente. Os anos vividos por Estevão e suas múltiplas relações, diluem esta possibilidade em um vinho que também degusta sempre que olha para ela.

De mesma natureza é aquilo que ocorre a Diogo. Há em seu caso, um misto de Joana e Estevão. Porque deseja profundamente e dispõe de toda a estrutura para a satisfação de tudo aquilo que lhe corre por dentro. Contudo, reluta.

Reluta porque teria de mostrar-se através de mensagens emitidas via whatsapp. Receberia, imediatamente, a resposta positiva para a sua saciedade. O problema? Tudo aquilo que seria gerado após, tanto em si, quanto nela.

"Melhor conter!". Assim sussurrou para si Diogo.