A Lei
Nenhuma Lei contempla o indivíduo! A que, espúria, o contemplasse a si mesma se traía. Tudo na norma é uma roupa larga onde cabemos todos. Nem justa nem folgada, mas, diria, capaz de cobrir o tema, as gentes em geral, os especiais do costume, referiu José, o professor. Ninguém é igual a outro embora tenhamos todas as partes genericamente comuns e parecidas, continuou. E todos escutavam em silêncio mas um, apenas um, estando ali sentado, vagueava por longe, à margem das conveniências, das normas, do parecer que sobre ele pudessem manifestar. Ele, Diogo, saíra da aula para ver o mar, para brincar na areia, para correr atrás das ondas com o vento a bater-lhe nas costas e as conchas já conseguidas a tilintar no bolso da bata. – Saem todos mas o Diogo fica. E o rapaz, assim colhido de surpresa, entrou pela janela aberta e acomodou-se em si à espera do castigo. A regra, pensou, é haver uma punição como preço do prazer. Saíram todos, felizes por sair e, gradualmente, caiu o silêncio que, agora, pesava tudo entre o mestre e o aluno. – Quis falar contigo para saber onde a aula que dei falhou a teu respeito. Vi que estavas longe, alheado, indiferente. Como farias tu para explicar o que expliquei? O rapaz corou violentamente e, honesto, disse que não sabia. Tinha a ideia no mar, na areia da praia, no vento, explicou. Nem sequer sabia do que se tratava por não ter ouvido, confessou. E o professor, puxando-o, deu-lhe o abraço que reservava apenas para gente séria.