ESCONDIDA DE MIM

Fechei as janelas, cerrei as cortinas e me escondi de baixo das cobertas, pra que a luz não me visse, nem a luminosidade das palavras me encontrasse.
Me tranquei num quarto escuro, de pensamentos sórdidos, necrosados pelo tempo, onde as decepções e expectativas escorriam livres pelo meu rosto, feito ácido, corroendo cada parte sã de mim.
Um pavor desajuizado me abraçava diariamente, me fazendo temer o amanhã.
Me tornei incapaz de calcular a dor e os danos causados a minha alma.
Mas ele não temeu a minha 'sombriedade', nem se intimidou com o cheiro fétido da minha dor.
Ele não julgou as minhas feridas, nem ignorou as minhas cicatrizes.
Ele me olhou com uma serenidade tão profunda, quanto um tiro à queima-roupa.
Ele fez arder o meu peito, reacendendo em mim, uma chama que eu pensava estar extinta.
Ele cuidou das minhas feridas e me mostrou o caminho da paz.
Aos poucos a sua luz foi me penetrando, me inundando e então, desapareci.
Ele me ensinou a amar novamente, me fez sentir prazer outra vez e com alegria, me fez abraçar a vida.
Hoje, estou rompendo desertos, abolindo decretos e amando quem sou.
E tudo isso só me foi possível porque ele não se apiedou do meu estado, ele simplesmente me amou e como eu era me aceitou.

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Sombriedade - Neologismo (esconderijo em meio às sombras)
Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 02/06/2021
Reeditado em 02/06/2021
Código do texto: T7269697
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