ENTRE DEMONIOS E ANJOS – CAP 1 – “E SE A IGREJA PASSAR PELA TRIBULAÇÃO...”
...porque o mundo é um lugar perigoso de se viver, principalmente nesses dias obscuros. Os dias são maus. Enquanto pensava eu o vi de novo, atrás de um poste, escondido, meio diáfano, meio um borrão. Caminhei andando. Dessa vez pensei na fome, já havia uns dois dias que não comia nada. Comer bem, já fazia mais de ano, desde que a Tribulação começou. Eu já não sabia mais em que ano estávamos. Não o ano do calendário, pois esse já não importava mais, mas os anos desde o inicio do Governo Mundial, que era o inicio do governo do César, o Anticristo. É lógico que o mundo mudou, e nem sabemos, os poucos que restaram o que será do futuro. Futuro é um lugar que aqui, no Apocalipse, não existe. A minha mão doía. Eu sentia a minha mão doer. Deveria doer muito, pensava eu, pois a vida era dor sem fim agora. Tudo era dor, tudo era angustia. A minha mão doía mais do que minha barriga, sinal que doía muito. A fome era tanta... Eu evitava pensar em comida, pois nem restaurantes existiam mais. Talvez em algum bunker do Governo Mundial, mas para os cidadãos do mundo, como nos definiram, para comprarmos comida, quando começaram a marcar as pessoas com o documento único, na testa ou na mão, restaurante era um luxo de um passado tão longínquo, talvez a sete longos e excruciantes anos atrás. Talvez houvesse algum restaurante ainda, eu não sei.
De repente eu escutei o som de asas, era um anjo vestido de branco, descendo das nuvens com as asas abertas, que de alguma maneira eu senti o vento das asas no meu rosto. Era comum agora vermos claramente anjos e demônios. Aliás o Baixinho continuava a estar atrás de um poste olhando pra mim. Eu fingia que não o enxergava. Eu tinha medo dos demônios, mas sabia que eles não poderiam nos atingir, pois Deus não permitira eles nos baterem físicamente, pois se pudessem nos matariam. Nesses anos todos eu vi potestades angélicas gigantes lutando com potestades demoníacas também gigantes, em visões aterradoras. Tudo nesses tempos nos causavam medo. Me lembro que anos atrás eu e as pessoas que estavam próximas Amim, ouvimos o próprio Deus ribombando no céu, dizendo de forma muito enfática e assustadora: Arrependam-se pessoas da Terra, pois a minha ira está derramada sobre vocês. Deus era assustador. É lógico que eu sou cristão, e é lógico que morro de medo do meu Deus. Tenho mais medo de Deus do que dos demônios que nos cercam nesses anos.
Eu estar vivo é um milagre. A dor era dilacerante.
Outra visão, ou realidade, não sei dizer, foi a mulher de vermelho. Há alguns anos atrás andava com um grupo, e nós entramos num galpão para roubar comida, enquanto fugíamos da policia do governo, que usavam no ombro suásticas estilizadas, muito parecidas com a dos nazistas. Deveria aquilo ter um sentido maligno, mas eu não sabia qual era. Eu consegui roubar alguns pães e uns pacotes de bolacha e um suco de laranja – muito difícil nesses dias. Meus companheiros cada um correu para um lado, fugindo da policia do governo que não conversava muito, na duvida eles matavam. Eu corri o mais rápido e o mais longe possível para longe daquele bairro, parando depois de quinze minutos, encostando-me numa parede de um prédio qualquer, ainda não totalmente destruído. Tomei o suco sofregamente, com muita sede e com gosto, pois estávamos bebendo água poluída, quando de repente uma mulher apareceu na minha frente. Eu tinha olhado e não havia ninguém e de repente ela está ali na minha frente. Eu sabia que ela era um demônio. Linda, de voz meiga, com um vestido vermelho com um decotão, cabelos lisos, pretos, muito pretos, aparentando ter uns trinta anos. Ela me convidava para transar com ela, ali mesmo, na calçada. Eu fiquei com muito medo. Ela era muito sedutora. Mas o seu olhar era inegável. Seus olhos eram totalmente pretos, não se via nenhuma parte branca neles. Eu sabia que ela era um demônio, que estava ali para acabar de matar o restante dos homens que ainda existissem na terra.
Naquele dia especialmente eu não consegui pensar mais. Aliás, faz tempo que não pensava direito. A vida era um constante tentar sobreviver. Uma das pragas eram os gafanhotos com rosto de homem que vieram do centro da Terra. Por algum motivo havia uma fixação de cavar até o centro da terra. Haviam buracos em várias partes do mundo e até no fundo dos mares. Num desses buracos encontraram ou libertaram esses gafanhotos. Eu vi um deles matando várias pessoas numa cidade, era pavoroso. Eles eram monstros com rosto de homem. Mas não eram os únicos monstros liberados nesses tempos. Uma espécie de dragão, que veio do mar, onde recebeu o nome de Leviatã, era tão medonho e perigoso que todos evitavam andar próximos à costa de qualquer país, de qualquer lugar. Mas nenhum lugar era seguro. Apesar da presença de Deus ser tão nítida e a presença do Espírito Santo ser tão clara. Varias vezes o Espírito Santo já falou comigo, audivelmente.
Os crentes viviam sendo guiados para cá e para lá, conforme o Espírito nos conduzia, nos lavando. Os que ainda estavam vivos, e acredito que eu era um dos últimos, senão o ultimo, éramos usados com um poder incrível. Mas a vida era tão... impossível de ser vivida agora, que cada minuto era um outro, talvez único e talvez ultimo minuto.
Olhei para o céu, algo me chamava a atenção nele. Sua cor avermelhada, meio escura, de cor de cobre era lúgubre, assustadora. Pra mim sempre parecia que o céu estava caindo na gente, aqui em baixo. De onde estava dava para ver umas três ruas acima e vi um homem endemoninhado. Eu sabia disso, pois ele não andava firme, mas sim movimentando os braços de maneira estranha. Eles eram perigosos, os endemoninhados, os demônios os faziam matar. Eu andava tropegamente, pois abala na minha barriga e o sangue que dali escorria estavam doendo muito. Eu tinha uma sede horrível. Imaginava que ia durar talvez mais alguns minutos, pois, eu andava, em frente, mas meus pés se arrastavam. Cada passo era um esforço dolorido demais. De relance eu compreendi que Demom, como eu chamava aquele demônio sem nome que perseguia a minha família a gerações, estava me olhando. Eu olhei assustado pelo meu ombro esquerdo e acho que vi seu rosto, próximo a mim, me olhando. Eu vi que o Baixinho correu para o outro lado da rua, sumindo num borrão escuro. Demom tinha a aparência de um empresário. Ele já aparecera a mim visivelmente, no passado. Ele odiava a minha família e a mim.
Eu andava entre escombros. As ruas, ou o eu restavam delas estavam destruídas. Não havia um único lugar no mundo todo que não tinha sido quebrado, movido, removido, estraçalhado, pelos constantes e intermináveis terremotos, ou meteoros que vinham do céu. Eu cai. O meu joelho esfolou, saindo sangue. Coloquei a mão na parede à minha direita, fazendo um esforço de continuar caminhando. Tentei respirar, o meu coração estava acelerado. O ar era intragável, venenoso. Tudo era poluído. O mundo todo gemia, destruído pelas pragas e maldições de Deus. Lá ao longe, em outro país, eu vira em alguma TV em algum lugar, que Israel estava cedendo às forças dos ataques do César. A Terceira Guerra Mundial, que eclodira a partir da Siria, era monstruosa. O mundo foi esvaziado pela mortandade.
Eu não agüentei a dor e cai no chão. Tentei me arrastar, indo para frente, para algum lugar onde o Espírito me dizia para ir, mas não tinha mais forças. A tontura, a fome, a sede e a dor estavam vencendo. Sem cuidados, eu sabia que ia morrer. Eu consegui dar um ultimo suspiro ainda, uma ultima oração, em meio à dor lacerante que sentia na barriga. “Meu Deus, me ajude.” Eu disse, caído na calçada de uma rua do fim do mundo, talvez no ultimo ano da Tribulação, considerando ela ter sete anos. Eu respirava com sofreguidão aquele ar poluido. O demônio que eu chamava de Baixinho viu que eu estava morrendo e começou a rir sem parar, um riso esganiçado, igual a de um bicho, me vendo morrer. O endomoninhado há três ruas à frente deu um grito medonho, instigado pelos demônios que estavam dentro dele e que sabiam que eu estava ali. Meus olhos estavam escurecendo, eu os ia fechando, quando ouvi mais uma vez uma trombeta soar no céu. Pelas vezes que eu ouvi nesses anos de Tribulação, pelas minhas contas essa era a sétima trombeta. Então era a trombeta da volta de Cristo, e biblicamente eu sabia que estávamos em Apocalipse 19. Eu não consegui olhar para cima, a dor era muita, mas eu vi que um forte brilho dourado estava no céu. De repente eu vi os pé de um anjo, com sandálias, um pouquinho abaixo da aba de suas vestes. O anjo se abaixou e me falou as seguintes palavras: “Cristo voltou. Você venceu. O nosso Rei te chama.” Quando ele tocou com a sua mão na minha, a dor sumiu e na hora eu entendi que o meu corpo havia sido transformado. Eu me levantei ali, com novas roupas. Roupas brancas,. Um roupão, igual ao do anjo e comecei a ser elevado aos ares. Por entre as nuvens Um cavaleiro descia num cavalo branco, na sua cabeça o Rei usava uma coroa. Na sua mão havia uma espada. Eu sentia tanta paz. Enquanto eu subia ao encontro de Cristo nos ares, eu ia vendo muitas outras pessoas que também estavam indo se encontrar com ele. Dentro de mim, pensei: “Eu não acredito, eu venci. Eu estou sendo salvo. Cristo me salvou.”
Continua...
Fique na paz.
Amém.