ENTRE O BEM E O MAL QUERER

Era uma família de 07 (sete) irmãos, passavam grande dificuldades financeiras, mas sempre, havia uma grande harmonia entre todos. Inclusive todos os filhos presenciavam constantemente a troca de carinhos e respeito de seus pais. Era deveras uma família em construção de amor.

Aos domingos, todos os filhos juntamente com a mãe, preparavam-se para irem à missa, somente o pai não ia, não podia perder as constantes apostas que fizera na loteria esportiva, conquanto, tinha que acompanhar as partidas de futebol.

O tempo passara rápido, era a constatação do pai, dizendo numa noite à sua querida esposa. O filho mais velho do casal, Marcondes, já com seus 20 (vinte) anos, preprarava-se para partir, destino à Inglaterra. Dias eufóricos, cheios de esperança em dias melhores. Era eletricista na cidade de Governador Valadares, porém, o que ganhava não dava para ajudar muito seus pais e o restante da família, no entanto, ficara sabendo da grande oportunidade em trabalhar em um país do primeiro mundo, lá o salário seria inacreditavelmente quase 20 (vinte) vezes o que ganhava em 01 (um) mês. Detalhe: isso seria semanalmente. Tudo deu certo, finalmente, foi para Inglaterra.

Passam-se duas semanas e, não obstante, nenhuma informação de Marcondes. Toda a família era só expectativa. Até que finalmente, numa sexta-feira, chega a primeira correspondência. Todos juntos, pais e filhos, começam a ler ansiosamente as notícias de Marcondes. Não eram muito animadoras as informações: o salário tal qual prometido, não era exatamente o que se falara no Brasil; as condições de serviço, também não eram muito boas; mas havia promessas de melhorias em breve, possivelmente, isso era devido ao período de experiência.

O pai, sempre ansioso, resolve jogar cada vez mais na loteria esportiva. Não acreditava que seu filho pudesse enviar os tais "moneys" como prometido e, como alternativa, era tentar a sorte, uma vez que não tinha condições de receber além das "migalhas" que recebia como pedreiro. O engraçado era que, embora com todas as dificuldades, ainda assim, tinham um padrão médio ante todos os moradores da rua. O que a mãe sempre se queixava do seu esposo era que ele gastava dinheiro demais em jogos, mas sem ser incisiva demais, para não gerar discussões.

Pois bem, passados uns dois meses, novamente, outra correspondência. Agora Marcondes dizia que tudo parecia melhorar, haja vista que até seguro pessoal a empresa onde estava trabalhando havia feito. Era um bom começo. Em breve, enviaria mais novidades.

O pai de Marcondes já sentira a dor da ingratidão do filho, aquelas informações podiam não ser verdadeiras. Ora, pensava ele, geralmente o que dizem é que sempre ganham muito dinheiro no exterior. Num domingo, confidenciou à sua esposa o que pensara, esta por sua vez, disse-lhe que era para acompanhá-la, junto aos seus filhos, para irem à igreja. Não podia coadunar com tais pensamentos sobre o filho tão batalhador.

Numa sexta-feira, ao voltar do serviço semanal, aquele pai ansioso por dinheiro, ao ler uma faixa ficara impressionado: "faça aqui sua aposta, não é preciso de dinheiro, é só acreditar na sorte!" Ora, para aquele que sempre acreditou e, via de regra, nunca tinha sido contemplado, pensou ele: é a minha chance! Entrou naquele local para saber o que se tratava. Foi muito bem recebido, todos ali bem trajados, ficou deveras impressionado. Mas o que era a tal aposta? Não podiam falar, tinha que retornar à meia-noite. Somente naquele horário eram aceitas as apostas.

Ficou inquieto, chegou em casa, mal conversou com sua esposa, nem mesmo olhou para os filhos. Aprontou-se e ficou aguardando o decurso das horas. Por volta das 23:00hs, resolve a sair de casa. Sua esposa acha aquilo estranho, mas confia no marido. Segundo ele, voltaria por volta de 01 (uma) hora da manhã.

Adentrou-se novamente naquele local, tudo estava branco. Estranhou, mas estava ali pela aposta que propusera, queria saber como ganhar quinhentos mil reais. Era o que precisava. Então, próximo à meia-noite, uma Senhora bem vestida aproxima dele e diz: chegou a sua vez, boa sorte! É só ir naquela sala e fazer sua aposta. Suas pernas estavam trêmulas, mas queria ver o que daria aquilo tudo. Quando adentrou à sala indicada por àquela senhora, logo avistou um espelho enorme. Não entendeu nada. Em seguida olhou para o outro canto da sala e, como não pudesse acreditar, viu um Senhor sem as duas pernas. Este com muita educação convidou-lhe a assentar. Explicou-lhe o que se tratava. Era um pacto que deveria fazer para ganhar os tão sonhados quinhentos mil reais. Mas que pacto seria esse? Novamente aquele Senhor sem as duas pernas lhe informa tratar-se de uma pacto demoníaco. "O anjo das trevas" lhe proporcionará dentro de 03 (três) dias o dinheiro. Aceita ou não? Como não tinha nada a perder, nem mesmo acreditava em Santos ou Demônios, topou. Por conseguinte, apertou a mão de um corpo estranho montado naquele local, parecia corpo de macaco com a cabeça de um bode.

Chegou em casa, meio que desconcertado, achou aquilo tudo rídiculo. Mas já havia feito o pacto. Pois bem, pensou ele, naquele sábado, nem mesmo comprou todos os ingredientes necessários para semana, como frangos e carnes. Reduziu ao máximo. Tudo para sobrar mais dinheiro para fazer jogos na loteria esportiva. Era sua grande chance! Resultado: não ganhou em nenhuma aposta dos jogos efetuados.

Na segunda-feira, à noite, todos em casa, chega um veículo enorme, novo, à porta daquela casa, onde já se fazia presente o pai pedreiro. Descem do carro dois homens bem vestidos e pedem para falar somente com os pais em particular, tinham uma notícia não muito boa.

Os dois homens eram correspondentes aqui no Brasil, da empresa onde o filho daquele casal assustado trabalhava. Tentando não serem muito objetivos, mas finalmente saiu da boca de um daqueles "corvos": o filho de vocês morreu em um acidente de trabalho, na Inglaterra. Nós somos da Seguradora e, embora o momento não seja propício, iremos indenizá-los em quinhentos mil reais.

Quinhentos mil reais... soou tão friamente dentro daquele pai que, num gesto totalmente estranho, saiu pela rua tirando todas as suas roupas e gritando, não aceito esse pacto, não aceito esse pacto. Estava doido!

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 06/11/2007
Código do texto: T726156