NOS INTERVALOS DAS BRIGAS (BVIW)

 
Aquele casal era típico amor que nasceu para sobreviver, embora as diferenças gritantes contradiziam a previsão do elo eterno. Ele todo zen, decidido, espirituoso com visão cristalina da vida. Ela, sensível, ansiosa, racional, e preocupada com tudo.

- Não é melhor a gente ir mais cedo? Não gosto daquela estrada à noite, tem pouca iluminação. E você acelera demais nas curvas!

- Esquenta não, amor, acendo os faróis de milha, e brilho mais que o Farol da Barra! Eu sou piloto de fuga, esqueceu? E excesso de cuidado, escassez de aventura!

- Fica de graça rindo das minhas advertências, seu chato...

Para tudo o que Lu temia, Edi tinha uma resposta sedativa. Por essa razão a mulher repetia com frequência: "- Você é minha camomila, Edi"-. Nem tudo, porém, era calmaria entre eles. Por vezes, com palavras afiadas, se arranhavam como a agulha e o antigo disco de vinil. Quando o móvel está desnivelado, a agulha desalinha fazendo estragos no Lp. Apesar dos perigos de uma ruptura, Edi e Lu acabavam se entendendo no jeito deles. O amor tem lá seus paradoxos. O rapaz entendia bem isso, tanto que escreveu na traseira do Jeep: amar é prender-se a quem se ama. Não viviam juntos por imposição, foi uma escolha mútua e consensual.

E nos intervalos das brigas, foram felizes sempre.