10 de Maio _ Uma chance para a Vida
Noemi vivia numa pequena cidade com os pais, era um lugar tranquilo, mas a vida da família não estava tão fácil ali, o pai tinha dívidas, a mãe tinha seu trabalho mas o salário era pouco, ela era diarista, as vezes nem recebia e Noemi na escola era a "quatro-olhos", solitária, vivia escrevendo frases em pequenos papéis, queria ser escritora. Um dia chegou na escola Helena, uma aluna nova, mais velha que Noemi, mas idênticas nas se encontraram na dor.
Na hora do recreio, Noemi andava distraída quando viu uma menina escondida entre os arbustos do terreno da escola, lugar bonito que ela gostava de ir para ler, era seu lugar favorito depois da biblioteca, Noemi viu a menina fazendo algo que não sabia o que era, mas impelida por uma forte curiosidade caminhou até ela, a primeira coisa que viu ao se aproximar foi um braço ferido, o sangue vindo, não muito, mas vindo, o corte não era profundo, Noemi olhou para a menina, não a viu reagir, viu dor em Deus olhos, muita dor.
Helena não teve vergonha de Noemi, não pareceu que ela fosse rir, sair correndo para chamar alguém, só estavam ali, as duas, almas distintas mas com dores semelhantes, cada uma a seu modo, sofrendo, Helena não queria se cortar, Noemi não queria chorar até não saber como foi que começou a dor no peito, tudo a consumindo... As duas não disseram nada num primeiro momento, mas Noemi percebeu que talvez pudesse dizer algo, o sangue com certeza fora causado pela menina, não tinha dúvidas, ela então disse um oi a menina, falou seu nome, deu um sorriso amigo e Helena sentindo a dor do corte e na alma, não queria falar, não agora, mas o sorriso a chamou no meio da sua escuridão.
Noemi e Helena falaram durante todo o tempo do recreio, pareciam se conhecer há muito, parecia que se encaixavam, Helena não disse o porquê do corte, Noemi não questionou, mas naquele dia, as duas sentadas entre os arbustos, Noemi escreveu: " Teu castelo é formosura, tua alma tem doçura, pegue nas minhas mãos, sinta meu abraço, encontre meu olhar, a dor te consome, mas tua tristeza passa a ser a minha também, juntas podemos construir uma escada, podemos ser irmãs, podemos subir, vencer nossos abismos, precisamos apenas de Fé e de dois corações que aprendam a amar a vida."
As duas meninas não ficaram mais sozinhas, tinham uma a outra para juntas guerrear contra a dor que habitava seus corações, escrevendo, cortando, chorando, abraçando, encontrando-se as duas meninas tiveram dias melhores, as coisas não estavam perfeitas, o mundo de cada uma não era perfeito, tinha suas rachaduras, mas elas buscavam a Fé. Os dias passaram e a amizade florescia, Helena conseguia sorrir, Noemi conseguia desenhar pessoas felizes e escrevia para as duas, eram tão singelas caminhando num mundo só delas.
Mas numa manhã antes de ir para a escola veio a cruel notícia: mudança de cidade. Noemi olhou para os pais e não soube o que dizer, entendia as condições, seu bar era tristeza, lágrimas vieram, mas ela não gritou, foi para a escola com os ombros caídos, uma criança ainda era ela, não ouviu muito bem a professora, não ouviu as perguntas, foi ao banheiro e escondida ali dentro chorou, chorou muito, porque não mais veria Helena, chorou por tantas coisas, sentiu-se tão mal, mas não tinha o que fazer, não era uma coisa da qual ela pudesse argumentar, no recreio veio a amarga despedida, as duas meninas se encontraram e choraram juntas, Noemi ouviu Helena como sempre fizera, mas dessa vez com a dor latente acordando dentro do peito pelo adeus tão próximo. Helena leu os escritos de Noemi como sempre mas dessa vez com o pesar de que não mais teria aquela amiga tão perto. Despediram-se com lágrimas e um abraço sentido.
Noemi partiu não muito depois, foram embora para longe e Noemi levou dentro de si a dor por Helena, números e endereços trocados, mas elas queriam mais do que isso.
Os dias se foram, anos passaram, cresceram ambas, não de esqueceram, se escreviam, mas em algum momento Noemi se perdeu, seus pais entendiam de amor, mas não sabiam de dores emocionais, não compreendiam o vazio que a devorava, a necessidade de se encontrar, até que no dia 10 de Maio de 2021, ela escreveu a última carta, mandou a última mensagem... tinha desistido, não suportava mais a dor, não sabia mais o que fazer, nunca faltou-lhe Fé, mas ela já não tinha mais forças. Noemi tentou o temido suicídio, mas antes confessou a sua amiga Helena toda sua amargura, contou nas mensagens, aprofundou-se na carta, última letra, último suspiro, seria um Adeus?
Os pais de Noemi só descobriram a filha desacordada no quarto por causa de uma ligação desesperada da mãe de Helena, o aviso era uma tragédia: Noemi tinha se matado. Helena foi encontrada em choque em seu quarto, lágrimas, sangue, cortes que a mãe nunca tinha observado antes, apareciam como tatuagens antigas em sua pele. Os pais de Noemi levaram aos prantos a filha para o hospital público da cidade, desolados, destruídos, como não tinham visto os sinais?. Onde tinham errado? Os status de Helena eram claros pedidos de socorro, mas os pais não liam, eram muitos, eles nem podiam ler, tinham seus dramas particulares, o tempo era curto. O quarto de Noemi era composto por diários, poesias, pinturas, ela era tão sensível, os pais achavam porém que a filha simplesmente só usava o celular, não a viam chorando, conversavam muito, mas em algum momento da vida perderam o diálogo, não sabiam por quanto tempo sofreu Noemi.
O estado de saúde de Noemi era grave, não sabiam se ela sobreviveria, Helena viera, seus braços com velhas enovas cicatrizes contavam histórias de rejeição, bullying, ansiedade... dores profundas, lera a carta, queria muito vencer, queria ser melhor mas não conseguia e a desesperança era latente em seu peito. Um dia de visita, Helena estava ao lado de Noemi que ainda não reagira, quando Rafael um Psicólogo que acompanhava o caso de Noemi, chegou, ele viu Helena, sabia o histórico de Noemi e a importância da jovem para a amiga, aproximando-se decidiu conversar com a jovem, naquele diálogo uma nova porta se abriu para Helena, ela contou-lhe com confiança o que sentia, seus medos, sua dor e ele faltou-lhe sobre a Fé, a esperança, aquele momento talvez não fosse o fim de Noemi, poderia ser também, mas ela precisava aprender a combater seus pensamentos, ele falou de Amor, empatia, amizades, a moça chorou, revivia seus momentos, chorou muito e decidiu -se que não mais se cortaria, ela iria superar, ela iria amar-se, pegou nas mãos inertes de Noemi e pediu-lhe que lutasse, elas poderiam e precisavam vencer juntas.
Dias difíceis vieram, Helena desejando se cortar e segurando-se com lágrimas nos olhos, os pais atentos agora também tentavam apoiar a filha. Noemi no hospital cercada ora pelos pais ou pela amiga, eles sempre diziam coisas a ela, amavam-na profundamente e um dia finalmente os olhos da menina voltaram a abrir -se, os pais choraram, ela tivera uma nova chance depois do medo de a perderem para sempre. Helena sentiu-se renascer, ela sabia agora que a Fé opera firmemente, ela tinha Fé, tinha amor, sabia agora que não lutaria em vão pela vida. Noemi se recuperou com o passar dos dias, junto com Helena, Rafael e seus pais, ela venceu seus medos, Helena se descobriu na poesia também, compôs canções. Se tornaram as duas, pessoas felizes, que viveram seus sonhos.
Fim