Reversão do medo

Após dez anos do tórrido relacionamento virtual entre Maria e Pedro, ela mais velha quinze anos, o encontro se deu em uma conexão no aeroporto de Guarulhos.

Ambos, mesmo casados – e bem casados – nunca esqueceram o quanto um foi importante ao outro naqueles três anos de encontros virtuais. Ela o abastecia com maturidade e ele, por consequência, retribuía com leveza.

Em fevereiro último ela decidiu visitar uma amiga de infância no Acre. Visita rápida, sozinha, só para matar a saudade e se desvenciliar do dia a dia que a estava enlouquecendo em função de trabalho. Aproveitou uma semana de férias para voar, no sentido literal da palavra.

No dia do embarque, arrumando as malas, pensou em Pedro e na ausência de coragem para encontrá-lo naqueles três anos. Suas conversas eram pelo Skype e poucas imagens ela tinha dele; mas era como se o conhecesse por anos. Ele, da mesma forma, também recuou todas as vezes que o assunto do encontro vinha à tona.

Decidiu ligar para ele, que a atendeu de pronto. Sem muitas palavras falou da viagem e informou o número do vôo, com conexão em São Paulo. Colocou em uma bolsa auxiliar duas taças e um espumante.

Não ficou ansiosa, não ficou nervosa, não voltou atrás.

Quando o avião pousou em São Paulo ela encaminhou-se para a esteira, com a mão grudada na bolsa auxiliar. Na porta de saída lá estava Pedro e cinco minutos. Cinco minutos era o tempo para conhecerem-se pessoalmente e brindarem o que viveram. E assim fizeram, e choraram, e trocaram as taças, retornando cada um para o seu mundo.

Escrito para a Oficina PROVOCAÇÕES - módulo 02 , da Editora Pragmatha

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