O sonho com Santa Hildegarda
O sonho com Santa Hildegarda
Um dia, uma mulher buscou a cura para sua alma. Então, ela passou a pesquisar todas as formas naturais para reaver o equilíbrio de seu corpo, sua alma e seu espírito.
Foi assim que, movida pela grande fé que tinha, encontrou os escritos de Hildegarda de Bingen, Santa e Doutora da Igreja. Médica naturalista, musicista, poeta, profetisa... que fascinante descoberta para aquela mulher! Ervas, cristais, energias sutis... Santa Hildegarda seria muito mais do que uma referência bibliográfica de suas pesquisas.
Em uma certa noite, no meio da leitura dos ensinamentos de sua mentora espiritual, a mulher adormeceu e teve um lindo sonho. Eis que Hildegarda a tomou pela mão e a conduziu a um maravilhoso jardim, com fascinantes beija-flores e andorinhas. Havia lindas drusas de cristais de ametista, quartzo rosa e citrino.
O sonho parecia realidade! Era possível ouvir o canto dos pássaros e sentir o sublime perfume das rosas e das orquídeas. Havia uma pedra ao centro do jardim, onde ambas tomaram assento. O mais impressionante era que a mulher havia voltado aos seus doze anos de idade, momento no qual desejou ser freira.
O sonho mais parecia uma revelação. Era vívido, cheio de cores, aromas e uma poderosa energia, que transmitia uma profunda sensação de paz interior e de comunhão com todos os seres da criação.
Eis que a jovem e a santa começaram a dialogar...
- Mestra, por que existe a dor? Perguntou a menina.
- Para você saber que o outro também existe. Respondeu a santa, com um olhar transbordante de misericórdia.
- Como assim?
- A dor é uma forma de você aprender a dar importância à vida, valorizando tudo o que você é e o que você tem.
A menina ficou em silêncio absoluto, contemplando a serenidade de Hildegarda. Ela acompanhou atentamente as palavras daquela monja beneditina, que surgiu em sonho para ajudá-la. Hildegarda continuou.
- Muitas vezes, a dor surge para que possamos curar algo em nossa alma. Mas, além disso, ela nos permite olhar para o outro como uma parte de nós. Ela quebra as ilusões da separatividade e nos mostra que somos um. Tudo o que fazemos aos outros, retorna para nós mesmos. É por isso que Jesus nos ensina a fazer aos outros o que gostaríamos que eles fizessem por nós.
A criança fitou o olhar bondoso de Hildegarda, que pacientemente explicou o sentido da dor humana. Era uma experiência transcendente. Hildegarda prosseguiu.
- Há pessoas que ainda não compreenderam a nossa unidade. Pessoas que julgam e falam mal de seus semelhantes. Pessoas que não se importam com os sentimentos de seu próximo. Pessoas que ferem, enganam, traem, prejudicam, roubam e matam para satisfazerem os próprios interesses. Pessoas que ainda não perceberam que os verdadeiros tesouros se guardam no coração. Pessoas que ainda não entenderam que a vida é uma dávida e que ela é sagrada para todos os seres.
- Eu entendo, vejo isso acontecer diariamente. Em vez de ajudarem umas às outras, muitas pessoas prejudicam a si mesmas e ao seu próximo. Isso machuca o meu coração profundamente.
- Persevere, filha! A dor existe para tornar o nosso coração mais compreensivo e compassivo. Existe também para que aprendamos a desenvolver a paciência, para que tenhamos profundas experiências com Deus, de maneira que tenhamos uma esperança duradoura, inabalável e inconfundível. Uma esperança alicerçada no amor incondicional e na pura fé, na certeza de que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus e, por consequência, seus semelhantes.
- Querida mestra, tudo isso é tão belo! Gostaria de poder praticar. Mas não sei por onde começar. Sinto-me presa à dor. Sinto-me impotente.
- Filha, seja sempre como as criancinhas, a quem o Reino de Deus pertence. Crianças apreciam o presente, sem alimentar preocupações com o porvir. Elas sabem acolher e apreciar cada experiência que vivem, sem julgá-las ou desmerecê-las. Elas sabem escutar os som dos passarinhos e o som de cada coração. Elas são puras de coração, de modo que Deus consegue falar através de seus lábios. E, principalmente, as criancinhas não sentem medo de ser o que são ou de expressar o que sentem. Aprenda com elas, filha amada.
Hildegarda abraçou a criança, que correspondeu ao abraço com muito carinho e com algumas lágrimas nos olhos. Hildegarda enxugou delicamente as lágrimas no rosto da menina, que agracedeu beijando a mão da santa, pedindo sua bênção.
Vendo que a criança ainda sofria, Hildegarda continuou:
- Se sua dor ainda persistir, examine sua consciência. Perceba se há alguém com quem você tenha uma "dívida", uma pendência emocional. Verifique se você sente a necessidade de perdoar e de ser perdoada por alguém. De nada adianta apresentar uma oferta ao altar de Deus se há mágoa, raiva ou ressentimentos entre nós e nossos semelhantes. Primeiro, devemos nos reconciliar com nossos irmãos e, aí sim, levar ao altar do Senhor um coração quebrantado, compassivo e consagrado por Jesus, nosso amado Mestre. Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Quando conhecemos a verdade, ela nos liberta.
- Querida mestra, muito obrigada por suas palavras. Eu precisava ouvir tudo isso. Minha fé estava tão fraca, mas suas palavras me encheram de alegria!
- Meu doce anjo, sempre alimente sua fé. A fé agrada a Deus, pela nossa fé somos salvos e curados. Jesus ensina que tudo é possível ao que crê. Sabemos que para Deus tudo é possível. Logo, se você tem fé, tudo é possível para você também, pois a fé é nossa íntima ligação com Deus. Vá em paz, filha. Os seus pecados foram perdoados por Nosso Senhor Jesus Cristo, quando ele tomou a cruz, morreu por nossos pecados, venceu a morte e ressuscitou para nos trazer a salvação. Clame por Jesus e ele virá em seu auxílio. Ele é o Mestre dos mestres e Rei dos reis.
Nesse momento, um raio luminoso despertou a mulher de seu sonho. Um novo e lindo dia anunciava a renovação das misericórdias do Senhor! De sua janela, o sol da justiça brilhava, trazendo ao seu coração a unção de cura, restauração e paz. E como no sonho, um lindo beija-flor surgiu pertinho daquela mulher, que ficou a sorrir e a chorar, ao mesmo tempo. As lágrimas caíram numa ilustração do vitral com a imagem de Santa Hildegarda. Era um choro de plena felicidade e gratidão ao Criador, que dali em diante transformou a vida daquela mulher para sempre.
Autoria: Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira
(MCSCP)