Coração Felino
Ana e Ricardo não tinham noção do quanto poderiam ser felizes. Entretanto, desperdiçavam a chance da união a seus sentimentos. Ao invés do amor, deixavam o preconceito falar mais alto. Não sei, bem, o motivo!?! Acreditava ser por não amá-los a si próprio.
Pobres corações! Ao invés de ampará-los pelo lindo amor reciprocos, covardemente mais uma vez erraram por não se corresponderem. Erraram por não mostrarem ao mundo, o quanto eram capazes de serem mais felizes que o empecilho dos seus orgulhos.
O tempo passou.
Tempo capaz de desgastar seus sentimentos. Por mais que suas bocas confessassem serem inimigos mortais, seus olhos, cujos não tinham boca; os desmentiam. Segredos, que só os que desfrutavam a vida diferente a deles, eram capazes de descobrir seus difames.
Tempo. O tempo passou. Passou. Passou. Passou e passou, incapazes ao menos de conscientizá-los que aqueles ventinhos tão gelados, acostumados a variar em alguns dias do ano, nada era melhor do que estar entre as cobertas, amparada pelo verdadeiro amor.
Orgulho maldito!
Telhado de vidro persistente!
Precisou o destino, após quarenta e tantos anos separá-los, para que Ana, ao chão os pés colocassem, aprofundando-se de vez na amargura convicção de que seu maior inimigo era sim, o grande amor de sua vida.
Descoberta tardia, só veio a deslanchar quando na morte do falecido. Uma forte notícia dominou a cidade: pois, ambos, eram os xarás do verdadeiro empecilho que a vida em todo o auge embreagou-lhes. Na verdade nada os impediam de por amor, amarem-nos. Afinal, eram os pais biológicos de seus xarás, seus verdadeiros inimigos. E foram teus pais biológicos que com receios dos pais dos seus xarás em acabar com suas vidas, trocaram-nos em sigilos nos seus primeiros dias de vida.
Ferida com a perda do amado, Ana ciente da grande fortuna que sempre lhe acompanhou, ganhou de vez a certeza de que nunca foi capaz de comprar a maior felicidade sua.
Única alternativa restou, do mais belo buquê de rosas vermelhas te representar no velório, junto da mensagem: “Você foi o meu grande e verdadeiro amor. Injusto, orgulhoso, mas, esmagado por sua bruta ausência, hoje, mais nada me restou...”
Dos curiosos que ali prestavam a solidariedade ao falecido, liam e reliam a tal mensagem, por mais que não entendessem. Indagavam manifestados em murmúrios.
Claro que não entendiam... Ana ainda na esperança de tão logo partir deste mundo, vegeta pelo amor não valorizado.