Um preço sem valor

Joãozinho era esperto; jamais perdera tempo com as fascinações de criança que passara por sua cabeça. Tudo era diversão. Seus pais eram pobres, não tinham o que lhe dar. Economia na família era questão de garantir o que comer.

Na sua casa não tinha fogão a gás, era fogão a lenha. Situação em que uma vez por semana, ele, junto dos filhos de suas vizinhanças tinham que em companhia das mães, lenharem. A maioria não gostava, mas Joãozinho se aventurava. Em uma distração da mãe, corria a primeira árvore frutífera que via pela frente e Pá! Bum! Lá estavam eles, subindo e tirando a barriga da miséria.

No momento dos feixes de lenhas, Joãozinho e os garotos aproveitavam e em rodízio se divertiam, fazendo com que cada um levasse um pouco, enquanto os demais se agraciavam.

No momento em que as lenhas estariam ao fogo, as cinzas da fogueira anterior tornavam-se artes em suas mãos, com alguns pedacinhos de carvões faziam as margens da rua, por onde os troncos de pequeno porte e quadrados que suas mães ganhavam de um dos serralheiro do bairro, tornavam-se carrinhos. Brinquedos que não tinham janelas. Também não tinham portas, mas nas suas imaginações tinham tudo. Eram diversões nas suas brincadeiras.

Haviam épocas que suas brincadeiras varavam horas. Algo que os enjoavam. De gostos “gastados” a garotada arrancava as meias dos pés, criando a única bola e dando início ao futebol. Entretanto, quando tinham daqueles “troncos”, em auxílio de dois pares, a garotada montava a trave. Tudo era simples, mas era fundamental a suas brincadeiras.

Quando, umas das mães os interferiam para cuidarem do fogão a lenha, no frio, eles até que gostavam de comandar o fogo. Já no calor, todos, em unanimidade, entravam em acordo e na malandragem de um dos colegas, Lucas, arrumavam uma caneca de alumínio, enchendo-a de álcool, substituindo o material pela lenha. Enquanto “aquilo” preparava suas refeições, a garotada voltava a se aventurar em seus privilégios de crianças. Privilégios que não tinha preço, eternizando profundas recordações.