Confissões de um peixinho de aquário
Do aquário vejo um sofá, quadros na parede, o gato que não mais me amedronta com seus olhos arregalados. Ele dorme tranquilo no sofá durante a maior parte do dia. O humano às vezes fica me observando e conversa comigo. Ele pensa que não entendo, por isso fala de seus medos, frustrações e de seu desalento. Seus olhos ficam úmidos. Hoje ele me falou que sabe que meu espaço é limitado, que existem lagos, rios e até oceanos imensos, onde eu poderia ser livre para nadar para onde quisesse. Falou que um dia vai me soltar no rio. Morro de medo que ele cumpra essa promessa. Quem me alimentaria? Quem me protegeria? Eu nasci num aquário. É triste não ser livre, mas não posso me dar esse luxo. É um dilema. O humano me falou que dilema é quando a gente precisa fazer uma escolha, mas tanto faz se a gente escolhe A ou B, a situação não melhora. Então o meu dilema é esse: se ele me soltar no rio, posso saber o que é liberdade, mas provavelmente não sobreviverei. Ele me falou que vive um dilema também. Que é livre aos olhos de todos, até aos seus próprios olhos, mas que tem grilhões internos que o impedem de ser livre de verdade. Não sei o que ele quis dizer quando falou que sua vida é um aquário... O gato também entende tudo e olha fixamente para ele enquanto está falando. Mas o gato é senhor de si, sai e volta quando quer. O humano cuida de nós.
Roberto Caroli