Joseph Cansado - 1
Joseph esquenta seu café de ontem, coloca no copo antigo, seu favorito, e toma. Sem açúcar. Um amargor na vida que prefere suportar. Café amargo é pouco ante tanta coisa...
Tem um mundo de vozes por fora e ele só está olhando. Tanta gente falando, tanta gente com vozes tão altas, não calam nunca. Joseph desistiu de tentar falar. Essa competição, que não é uma conversa, agride o coração, a mente... e cansa.
Já o café é um amigo, bom ouvinte, fala pouco e com sabedoria. Um mundo particular quando se está com uma caneca de café, enquanto o mundo se faz, desfaz e refaz, Joseph pensa e confabula no silêncio desse mundo. O vapor que sobe, debatendo com as ideias que nunca serão faladas, construindo pensamentos e estratégias, julgando, absolvendo ou condenando as palavras ditas, os despejos de lamúrias e intenções.
É descanso e manutenção da sanidade. Cansa falar com as pessoas, coisas que não serão ouvidas, palavras ditas em vão, tentativas de expor ideias que por fim serão rejeitadas por qualquer ídolo do coração ou desejo mais forte de uma vontade não satisfeita, um capricho qualquer. Cansa falar, cansa tentar falar, cansa esperar ser ouvido, cansa a expectativa, cansa até a intenção de falar quando não se tem esperança de ser ouvido. Então, Joseph pega sua caneca, finge demência ou interesse, e com a cara interessada no mundo externo, fica absorto no seu interno lugar.
Refúgio, não é o café, a xícara... são companheiros na viagem. Refúgio é o lugar que encontrou na sua mente, talvez um tanto perturbada agora. A qualquer momento ele entra, ignora todo resto e vive. Saudável possivelmente não, urgente.