A preterida.
Mulher não pode amar depois de velha.
Na primeira tentativa – ele veio atrás – foi preterida por uma mais jovem.
Ele se ferrou, pois ao fim e ao cabo foi trocado pela eleita por outra. Amargou a perda e se contentou com uma dez anos mais velha que ele, o que conseguiu.
A preterida riu? Falou bem feito?
Amargamente ela pensou: todos perdemos.
Restou o sabor amargo de constatar que mulher idosa não existe mais para a sociedade, ela vira uma senhorinha.
Contudo, não foi o suficiente, pensou que merecia uma última tentativa, afinal, ela se sabia suficiente como mulher.
Errou o alvo coitada, concluiu que farejava roubadas.
Como o primeiro ele se apresenta livre, a idosa – criança boba - acredita de novo.
No decorrer do que ela achava um novo e último amor, descobre que a vida é um eterno retorno, não pode evitar lembrar Nietzsche e sua teoria – por ela comprovada – do eterno retorno.
Cruelmente descobre que existe uma mulher mais jovem, e blábláblá porque não existem mais palavras que deem conta de tamanhas injustiças pelo destino travadas.
Deste o final ela não sabe, mas não vai pagar para ver.
Não veio ao mundo para coadjuvante, seu papel sempre foi o principal.
Mulheres não podem envelhecer, conclui com tristeza olhando o rosto amado e marcado no espelho.
A única certeza é que realmente, como intuíra fora o último amor de sua vida, equivocado amor, mas ainda amor.
O final do atual ela não sabe, aí já não é com ela, fez a sua parte na vida que consistiu em não desistir de ser ela mesma, de ignorar a idade, só não contou com a sociedade.
A ela o papel de senhorinha doravante.
Homens são valorizados por serem homens, a eles basta ser.
Mas ela já sabe a quem recorrer.
Os livros de Nietzsche, seu amor atemporal, esperam por ela.
Por eles jamais será preterida de novo.
“Você viveria sua vida mais uma vez e outra, e assim eternamente?”