O DIA DOS PAIS
Miguel chegou no colégio com o mesmo olhar de todos os dias: distante. Logo, foi abordado por uma colega de sua sala que estava empolgadissima:
- Trouxe hoje para a minha apresentação, um objeto que representa muito bem meu pai. Acho que todo mundo vai amar! -falou Júlia cheia de entusiasmo.
- Que bom - respondeu Miguel de um modo muito apático.
- Nossa, o que houve? Não conseguiu trazer nada que lembrasse seu pai para apresentar para a turma? Por que está tão quieto?- perguntou a inocente.
- Trouxe sim.
- Ora, mas então muda essa cara! - exclamou a doce menina.
Com ambos já em sala de aula e com a turma a postos, eis que a professora dá início aos trabalhos. Todos os alunos estavam incumbidos de levar objetos que lembrassem seus pais e, deste modo, apresentar para seus colegas. Coisas típicas de um mês de agosto.
Após alguns sapatos, gravatas de qualidade questionável, barbeadores com muitas lâminas e outros apetrechos, eis que chega a vez de Miguel! O menino então levantou-se calmamente de sua carteira, andou até o centro da sala, respirou fundo, enfiou a mão no bolso da calça e disse:
- Aqui - e mostrou o objeto a todos - Isto lembra meu pai- falou com muita seriedade.
Fez-se um silêncio pavoroso que, por poucos segundos, foi levemente quebrado por alguns risos contidos. A professora, de olhos esbugalhados, arriscou perguntar:
- Seu pai trabalha com dedetização? Por isso trouxe essa ratoeira?
- Não - retrucou Miguel - É porque sei que ele é um rato mesmo.
E à professora só restou aquele nó na garganta e a vontade de enfiar a cara em um buraco.
8/8/06