O Faroleiro

Capítulo 1 - Poeira

Sua idade era incerta, apenas se tinha conhecimento de que havia percorrido estradas heterodoxas não mostradas nos mapas turísticos da América do Sul, localizadas no Argentina, Peru, Brasil, Colômbia, ninguém sabia ao certo quantos quilômetros trilhou dentre os mais diversos meios de locomoção, trens cargueiros, traseiras de velhas caminhonetes, a boa e velha caminhada por horas a fio em um chão de terra, cada um trazia uma experiência única.

Numa infeliz noite de inverno, dentro de um velho vagão, havia uma mescla de historias, a vez em que o sexo foi pago pelas moedas que um músico havia conseguido enquanto tocava um velho violão em baixo da sombra de uma árvore, a primeira vez quem um senhor disparou contra um homem durante a Guerra da Cisplatina. um jovem de não de mais que vinte dois anos que possuía com ele um diário onde os textos se mesclavam com imagens sexuais.

A temperatura estava a menos de dez graus, havia algumas fogueiras dispersas, dentre as figuras comuns que haviam no vagão, estavam ex mineiros, carvoeiros, apostadores não profissionais, “caso fossem, não estariam naquela situação, compartilharam entre eles cagarros, bilhetes escritos por supostas pessoas, garrafas de bebidas e todo bom degustador sabe, sempre há aquele momento... era então necessário abrir a porta de correr que pesava algumas toneladas se fazendo necessário o esforço de alguns homens, uma cena que se contrastava entre o hilário e o desolador.

Em um canto distante havia um pretendente a escritor que teve suas publicações recusadas por várias editoras tendo em seu auge publicado não mais que alguns poemas em em jornais que já faliram há muito tempo, mas o Poeta ainda declamava seus versos

– como se alguém se importasse...

Ele talvez pensasse consigo, enquanto recitava à estrela que o acompanhara durante a viagem, à estava observando pela ínfima fenda no teto deteriorado pela ferrugem, com toda certeza alguém naquele vagão enxergava a paixão na sua poesia, mas naquele momento, se manter aquecido até o alvorecer era só o que queriam.

Por todo o tempo que vivenciou em suas viagens pelo interior ele ouvia histórias de um lugar onde o silêncio residia e som das águas batendo nas pedras era a canção dos dias, uma vez enquanto perambulava pela área comercial de uma província, algo o chamou atenção, era uma máquina de escrever decadente esteticamente mas ainda funcional, disseram a ele como usá-la, como poderia inserir uma folha de papel, realizar uma simples configuração e então usando as teclas expressar todos os seus pensamentos, aquela máquina de escrever o acompanhava em sua sacola desde então

usualmente quando estava cansado, ele cochilava no gramado de algum parque, certa vez ele sonhou com gaivotas e sem entender o porque, buscou uma modesta biblioteca pública, onde contou a uma moça gentil sobre o que vira em seu sonho, então indicou a ele um livro repleto de ilustrações, absorto naquilo que via, se perguntava se era real ou obra de um artista talentoso, uma das imagens foram suficientes para que se convencesse de seu próximo destino.

Ph Vieira
Enviado por Ph Vieira em 07/04/2021
Reeditado em 07/04/2021
Código do texto: T7225924
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.