Borboletou Com a Asa Dura 7

Quando me dei, estava a borbulhar em meio a lava , sem o corpo, sem o arrasto de insignificado que levava, sem a carga emocional da mulher de trinta e poucos, que fazia levar eu e o mundo nas costas.

Ao tornar desperta do que havia acontecido, a vontade tomou lugar, e o clamor em forma de cântico fez o rogo para ser resgatada pela Fonte Divina.

A voz foi dirigida até as alturas, e pela primeira vez, estava na confiança plena de que seria atendida. Ouvi o som dos passarinhos cantando. Com doce voz, chamavam-me: “vem filhinha! Vem filhinha!”.

Pela audição, a impressão levada à Alma, mesmo não enxergando o ambiente, denotava que de lá onde vinham as vozes, tinha paz, muita paz, alegria em abundância, como se o pavor e a dor a qual me encontrava, não passavam de um pesadelo.

Em meio ao abrasivo, numa interrupção do ato, fiz a pausa decisiva.

Freando a vontade, houve a opção final de escolha, retornar para a vida, mesmo sabendo que o melhor lugar poderia ser ali. Tinha a missão por terminar.

Falar nestas questões é como discutir assuntos vazios de significado. O fato é que o desafio a qual fui submetida é desprovido de provas, realidade imanente para aquele que está de fora. A não ser estar aqui para narrar.

Lidar com o tempo e espaço em dimensões diversificadas, depois da grande queda, foi encontrar com o ilimitado no corpo presente.

Encontrou a felicidade? Encontraria a realização plena do ser?

Ouve a desobstrução, a abertura de um furinho no coração, tudo que ficava arquivado, demonizando o ser, foi lançado oceano afora, passaram viver na superfície.

Passei receber a seiva que alimenta o que Sou diuturnamente, lembrando-me mais que o desespero, a raiva, a ansiedade dos tempos, a incerteza, a comida que ingiro, a água que bebo, o sorriso ou o choro que emito, a certeza de que peregrino por mim mesma, compartilhando com o Sagrado a vida.

A consciência desperta, aboliu barreiras, fronteiras que pudessem reviver o preconceito, a desigualdade, a fragmentação. Fez deixar o ontem no ontem, com todas as suas tralhas, estando no hoje inteira.

Depois, a renúncia, muitas vezes, não significava covardia, mas coragem, aceitação, sabedoria, silêncio, reserva de energia, propósito, primeira necessidade, virtude a ser compreendida, enterro de algo que não tem mais vida, adaptação ao agora.

A experiência de não dominar o corpo físico foi a prova, a partir da ausência da capacidade de administrar os movimentos do corpo, da pior forma, levou-me à busca do amor próprio, daquilo que o mestre deixou oculto na máxima do amor:

Amai a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo COMO A TI MESMO.

Neste verso, o amor próprio exala como perfume.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 02/04/2021
Código do texto: T7221970
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