Borboletou com a Asa dura 6

Que desculpa caberia para aquela decidida ir às últimas consequências? Decidiu pelo não. Desistiu de não olhar mais para as janelas que dava para o mundo, inclusive aquela que sempre esteve, a da religião.

Perscrutou o instinto que possuía em sua inteireza. Sabia do seu potencial para o receber e dar prazer, da sua extrema sensibilidade para o amor, da ferocidade insaciável ao culto ao prazer, do gosto refinado para querer as coisas boas da vida, de valor. Da competência de embrenhar no conhecimento e sair dele com o que queria, da versatilidade do pensar para agir e interagir no mundo para a conquista de coisas.

Quando a rachadura na parede de contenção soou ao longe, bem antes, tinha definido na escolha; quero me ter, quero me ter por dentro, até as entranhas, onde não caiba espaço para mais nada, onde não tenha chance para o intelecto que porto ter ímpeto para macaquear em questionamentos e conjecturas, naquele lugar onde corpo, mente e espírito interagem para que eu seja como sou.

Não queria mais atender predominantemente as exigências do corpo físico, mental, emocional e instintivo,, comparada às bestas feras, que não fazem outra coisa, senão, passar a vida saciando seu instinto animal, devoradora de carne e sangue, condenadas pela natureza ao determinismo biológico, de nascer, crescer, acasalar, procriar, adoecer, envelhecer, desaguando no oceano comum da morte.

Os escritos da peça da vida de qualquer um, no nível consciente, não é revelado por antecipação, a não ser pela exceção; através dos sonhos, das premonições, das vidências e das profecias, e de um leque de manifestações do inconsciente humano, que ainda não são pacificamente reconhecidos pela ciência da mente do mundo como simplesmente alargamento de consciência.

Foi pelo sonho, quando dias antes da catarse, sonhei na casa de mamãe e de papai, que um grande ser vinha em minha direção, estava envolta em grande escuridão, fraca, deitada em um recipiente de vidro, quando aquela divindade colocou uma bola de fogo que segurava em suas mãos em meu coração, que reluzia mais que qualquer luz vista por meus olhos até então, saindo logo após apressadamente, desaparecendo na escuridão.

Aquele ser, cuja pele reluzia como ouro, suas vestes, feitas de um tecido radiante, sua altura, era de gigante, sua beleza, tremenda, seu silêncio dizia que vinha da terra do Fogo Divino, da redondeza onde mora os seres habitantes do interior do Sol.

Somente a lembrança desta passagem, faz as vistas arderem, o coração ferver como brasa, a alma elevar , diferenciando do que sou de carne e sangue.

Seria por isto que disse ao papai que estava preparada? Mas não estava, a ordália foi além daquilo que podia suportar! Perdi-me de mim mesma, perdi-me de mim mesma!

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 31/03/2021
Código do texto: T7220823
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.