Entrada triunfal em Jerusalém (Domingo de Ramos)
Assim que aquela noite de primavera caiu, eles cearam e na manhã seguinte, em Jerusalém, havia uma reunião no Sinédrio. Anás, estava mais calmo do que de costume, mas, Caifás não. Jonatas contara para o pai o que presenciou e o pai não gostara. Pensou que o filho enlouqueceu e pensou que ele havia se tornado mais um “maluco que segue o nazareno”. Na reunião, estavam presentes todos os sacerdotes, fariseus, saduceus, alguns essênios. De qualquer forma, Caifás estava incomodado. O grande assunto não era a Páscoa que estava chegando, mas, Lázaro de Betânia. Cogitaram inclusive, matar Lázaro, mas, logo foi descartado.
José de Arimatéia tomou a palavra:
— Irmãos israelitas. Eu, assim como o irmão Nicodemos e o próprio filho do sumo sacerdote, nós vimos com nossos próprios olhos, Lázaro saiu do sepulcro.
Jonatas Bar Caifás tomou a palavra após José de Arimateia:
— O que quer que tenha acontecido lá, foi algo prodigioso.
A fúria de Caifás foi iminente:
— Ora, mas, meu filho? Meu filho? Como pode? Acreditar naquele chacal de Nazaré? Não. Sangue do meu sangue!
Jonatas disse:
— Não acredito e não desacredito, apenas, o que vi, não há nada na razão humana que possa explicar.
Nicodemos disse:
— Eu vi o morto sair com vida do túmulo. O fedor da podridão assolou á todos ao redor.
Gamaliel, o sábio, disse:
— O que aconteceu, nós não sabemos se foi truque, obra de um homem querendo chamar atenção, um teatro, como chamam os gregos. Ou, se foi ato de Deus. Não devemos discutir e nos apartar, mas, nos unirmos e tentar entender o que aconteceu. Somos o povo de Israel, estamos unidos em Adonai, não devemos macular seu nome ou seus atos. Eu digo, Jesus de Nazaré é de fato um homem inteligente. Se o que ele faz é truque ou teatro, nós devemos interroga-lo, pois, somos a autoridade de Israel. E por sermos a autoridade de Israel, devemos trata-lo com respeito, nenhuma gota de seu sangue deve ser derramada.
Jonatas disse:
— Por que Jesus não vem até aqui e nos dá o seu testemunho? Se ele é de fato o tão aguardado Messias, ele não tem o que temer. Se não for, não virá á Jerusalém para a Páscoa.
Anás tomou a palavra, sabiamente:
— Tolice. Discutir se ele é ou não o ungido de Israel. Esta semana é a Páscoa, não podemos causar tumulto, não podemos atiçar a ralé. Pilatos deixou claro.
José de Arimatéia disse:
— Nenhum de nós quer dar mais vitimas á Pôncio Pilatos no Gólgota. Ouvi antes de vir para cá, que, Barrabás foi preso.
Caifás riu e disse com um disfarçado tom de preocupação:
— Barrabás? O zelote? O que isso importa?
José de Arimatéia respondeu:
— Imagine, Caifás, a cidade repleta de peregrinos para a Páscoa e os zelotes decidem causar atritos entre judeus e romanos e Pilatos aproveita e comete uma chacina.
Era verdade, Barrabás fora preso logo no amanhecer daquele domingo, próximo á Jerusalém no Vale de Refraim. Havia sete zelotes juntos com Barrabás, entre eles, Gestas e Dimas. Longino, o centurião e uma dúzia de soldados, conseguiram a rendição de Barrabás e dos outros dois. Eles foram arrastados para Jerusalém para o calabouço da Fortaleza Antônia. Pilatos chegou da Cesaréia há três dias. Geralmente, fica em Jerusalém pelo menos, até o domingo seguinte. Barrabás, Gestas e Dimas foram colocados em frente á Pilatos. Longino foi parabenizado por Nerva e Pilatos e isso causou risos de Barrabás.
— Um cachorro elogiando o outro por comer a própria merda? Que bonito! – disse Barrabás dando gargalhadas.
Pilatos disse:
— Por mim, agora mesmo te penduraria em uma cruz.
Barrabás rindo mais alto disse:
— Simples, me pendura.
Pilatos perguntou á Longino:
— O que fazemos com os outros dois?
Longino disse:
— Podíamos deportar os três para Roma para serem servidos como comida para os leões das arenas de gladiadores.
Pilatos riu e disse:
— Pobres leões. Morreriam de diarreia com essa carne judaica. Virariam putas dos senhores patrícios. Vocês, judeus, qual o problema de vocês? Espero que um dia, alguém encontre uma solução simples e eficaz de dizimar vocês. Talvez, colocando vocês em um lugar onde todos possam se olhar e se perguntar ‘Por que estamos aqui?’ e se lembrarem de que vocês não passam de um povo encrenqueiro. Mas, não posso. Não fazem ideia do desprezo que tenho por vocês. Como não posso fazer isto de exterminar vocês, eu, Pôncio Pilatos, condeno os três a crucificação. Pelo menos, podem servir de exemplo para o resto dessa raça imunda. Podem leva-los.
Oito guardas cercaram Barrabás, Gestas e Dimas e os levaram. O que mais estava arrependido dos três era Dimas. Dimas era irmão de Bartimeu e assim que soubera da cura do irmão, decidiu largar a vida de zelote e seguir á Jesus. Mas, era tarde demais. Barabás disse á Pôncio Pilatos:
— Ria, seu degenerado. O Messias vai arrancar tua cabeça e colocar no meio das tuas pernas. Se o Messias não fizer, eu mesmo faço. Vou cortar teu pau fora e te fazer engolir ele.
— Messias? – perguntou Pilatos – Que fascinio vocês têm por pau. Já sei, te crucificarei. Não esqueça, vocês são apenas um povo fodido, parem de sonhar e acordem para a realidade. Roma é a realidade.
Os presos foram levados. Aparentemente, o destino dos três foi selado ali perante o romano antissemita.
Barrabás, Gestas e Dimas foram mandados para as masmorras da Fortaleza Antônia e presos á grilhões. Longino acompanhou o encarceramento dos três, mas, logo saiu das masmorras devido á fraqueza de sua visão. Ele então foi até Pilatos e conversaram. Pilatos temia que houvesse alguma revolta por aqueles dias, pois, Jerusalém em época de Páscoa, ficava repleta de peregrinos. Pilatos sabia sobre Jesus, mas, não via nele um inimigo em potencial assim como os judeus o viam. Após a ultima discussão de Jesus com os fariseus após curar o cego, Caifás foi até Pilatos persuadir o romano á prender Jesus e o mesmo recusou. Foi então que, Caifás, traiçoeiro, fora até o tetrarca da Galiléia se queixar acerca de Jesus. o tetrarca com medo de que Jesus fosse o Batista ressuscitado, mandou homens atrás de Jesus. Foi então que Jesus foi embora da Judéia e tornou ao local onde fora batizado por João Batista. Passaram-se algumas semanas, Jesus fora de volta á Betânia, onde, Lázaro havia morrido e ele o trouxe de volta dos mortos, causando espanto em todos que assistiram á tal ato. Pilatos mal sabia que seria decisivo no destino do Mashiah (Messias).
Jesus estava á caminho de Jerusalém naquela manhã, quando, pediu á Mateus e João irem buscar um jumento que estava em uma estrebaria próxima de onde eles estavam. Jesus disse:
— Se o dono do animal reclamar, diga que o Mestre precisa do animal e que irá devolver.
Mateus brincou:
— Bom, preciso caminhar mesmo, ganhei uma barriga recentemente.
Tiago riu e disse:
— Vão pensar que está carregando um filho na barriga.
Os discípulos riram e inclusive Jesus de uma gargalhada. Assim foi. João e Mateus foram buscar o animal. Durante o caminho, João e Mateus conversaram sobre os fatos que aconteceram recentemente e sobre o receio que tinham em ir á Jerusalém durante a Páscoa.
Mateus tomou a palavra:
— Percebeu como está o mestre?
João sem pensar muito disse:
— Bem humorado?
— Ele está sempre bem humorado. Sinto algo diferente nele. — respondeu Mateus olhando para o chão empoeirado.
João disse:
— Lembra o que ele falou?
— O que? — questionou Mateus.
— Que viria para Jerusalém e seria morto aqui. — respondeu João.
— Verdade. — respondeu vagarosamente Mateus. — E quanto á nós?
— Á nós? — perguntou João.
Mateus dá uma parada, suspira e diz:
— Nós também?
— Também, o que? — questionou João.
— Também iremos morrer? — perguntou Mateus.
João colocando a mão no ombro do amigo disse:
— Mateus, um dia todos iremos morrer. Pra que tanta pressa?
— Tem razão. É, tem razão. Mas, tenho medo. — diz Mateus.
João diz:
— Vamos, não temos tempo á perder. E nem tempo para termos medo.
— Sim, vamos. Minha barriga já ronca. — diz em um tom leve o bonachão Mateus.
Assim que chegaram ao local, a neta do dono do animal viu e chamou seu avô, Rubem. Naturalmente, Rubem se opôs á eles pegarem o animal e disse que daria uma surra nos dois com um porrete que tinha na estrebaria. João disse inocentemente:
— Mas, o Mestre pediu.
Rubem ao lembrar quem eram os dois e que são discípulos de Jesus, autorizou que levassem o animal, contanto, que o devolvessem no mesmo dia.
— Por favor, levem, mas, tragam ainda hoje, este jumento será vendido em dois dias. Sorte a de vocês que ele ainda não foi vendido.
Mateus e João agradeceram e foram até onde Jesus que se encontrava no Monte das Oliveiras. Jesus olhava para Jerusalém como se fosse um sinal de despedida. Quando Mateus e João chegaram com o animal, Jesus montou no animal e se dirigiu á Jerusalém. Judas Iscariotes estava muito animado e enquanto Mateus e João foram buscar o animal, fora até Jerusalém avisar da chegada de Jesus, chamando-o de Rei dos Judeus. As pessoas que ali estavam, logo, recolheram ramos de oliveira para receber Jesus, pétalas de flores em cestos, salmos eram cantados á espera de Jesus.
Em passos lentos em direção á Jerusalém, Jesus conduzia o jumento que o levava. De repente, Jesus parou e ficou admirando Jerusalém com os olhos em lágrimas e disse:
— Ah, Jerusalém, se tu ao menos neste dia conhecesses aquele que pode te trazer a paz, mas, isto está oculto aos teus olhos. Dias virão em que os inimigos te cercarão com trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados. Esmagarão á ti e teus filhos e não deixarão pedra sobre pedra, pois, não reconheceu o tempo em que a paz te visitaste.
Os discípulos não compreenderam o que Jesus disse. Mas, alguns deles, estariam vivos ainda para ver tais palavras se cumprirem. O cortejo seguiu para o portão leste de Jerusalém. Havia uma multidão ali presente, esperando que Jesus entrasse triunfante na cidade. E assim foi. Os fariseus ao ouvirem os barulhos das pessoas, foram até lá averiguar o que acontecia. Havia alguns soldados romanos fazendo guarda ali.
Logo que Jesus entrou na cidade, jogavam pétalas de flores nele, seus cabelos cacheados logo ficaram com algumas pétalas e seu sorriso cativava cada vez mais as pessoas. As sentinelas romanas ficaram á espreita. Muitos deles não entendiam o idioma local. Eles se perguntavam no bom e velho latim, quem era aquele que entrava montado igual á um rei naquela cidade considerada fétida por eles. Algumas pessoas que estavam ali, apenas foram para agradecer á ele por algo que ele fizera. Estavam ali presentes, alguns que receberam alguma graça de Jesus, como, Bartimeu, o cego de Jericó, Lázaro seguia o cortejo, junto com suas irmãs, porém, com receio de ser agredido por aqueles que não simpatizavam com as ideias de Jesus. Simão, o leproso, vizinho de Lázaro e Matias, o leproso que não fora ingrato com ele. Aquele era o dia de Jesus, o dia em que Jesus talvez mais ganhasse carinho em toda a sua vida. Á frente com Jesus ia Pedro, Judas e o robusto Bartolomeu. Tiago e João iam á sua esquerda e sua direita. Na verdade, Pedro e Bartolomeu foram á frente com Jesus por motivo de segurança. Já Judas, foi apenas para ser visto, geralmente fazia isso. Judas era aquela típica pessoa que não faz nada, mas, está sempre no meio para ser visto e ser admirado. As pessoas, inclusive as criancinhas exclamavam exultantes:
-Hosana, ao filho de Davi!
Teófilo, filho de Anás, presente junto com alguns fariseus, sentindo o mau cheiro da multidão, irritado com os gritos, censurou Jesus dizendo:
— Nazareno, mande que estes que aqui estão gritando, calem-se.
Jesus disse rindo:
— Se eles se calarem, aí serão as pedras que gritarão.
Tais palavras constrangeram Teófilo que fora até o Sinédrio prestar queixa á Caifás e Anás sobre Jesus. Jonatas, filho de Caifás, via a cena riu do tio. De fato, Jonatas não era simpático ao tio, portanto, o que Jesus fizera ao tio, apenas foi motivo de riso e constrangimento para com ele. Então, Jesus continuou o cortejo e desceu do jumento em frente ao templo, abençoou a multidão e ali, por um momento houve paz. Mas, havia ódio e trevas nos corações de alguns, pois, pensavam que Jesus iniciaria uma revolução contra Roma. Ao invés de Jesus incitar o povo á tomar em armas e palavras que inflariam o ego revolucionário de alguns judeus, ele apenas entrou no templo.