Borboletou Com a Asa Dura

Havia me esquecido das ombreiras. Uhm!! De hoje para o passado, que não é tão passado assim, pela ótica do harmônico, ficavam horríveis, sem espaço para o adequado ao biotipo da mulher que as portava.

Como pode a moda ditar almofadinhas para os ombros!? A mulherada usava.

Tinha as pequenas, médias e grandes, eram colocadas sob os ombro da blusa para melhorar a postura, dar uma otimizada no loock daquela que queria estar na moda, e elegante.

E quando usadas com blusa manga morcego? conjunto com saias plissadas, pregueadas, ababadadas, midis, godês? De quebra, no maia da elegância, com meia na cor fumê ou preta, bordadas com borboletas, estrelinhas e pedrarias, arrematando no uso do salto alto.

Era a moda.

Quando ia a Igreja, buscava este arsenal, o toque toque nos corredores do templo, era a finalização da intenção.

A execução do charme feminino era, depois da oração; dirigir-se até o cercadinho onde estava o órgão clássico, fazia a pose para o levantar majestoso, subia o pequeno assoalho de madeira, sentava, arrumava as ombreias, que nessa altura, estavam cada uma para um lado sob os ombros. Depois, os cabelos meio que esbugalhados sob o véu, finalizava ajeitando-os no que podia, esticando a saia, organizando seus vieses( e o suor escorrendo).

O hinos da “meia hora”, tocava-os baixinho, imaginava eu mesma assistindo eu mesma, numa cobrança desesperadora para o perfeito sair.

Era o esperado. acabava por cometer falhas, a ansiedade antecipava-me nos atropelos com os pés nas pedaleiras. Por vezes, em decorrência dos saltos serem muito altos, atrapalhava na execução do baixo. O mesmo com o pedal do volume.

Depois de uns vinte minutos tocando sob o império do emocional, que muitas vezes, não sabia se tocava ou organizava o corpo nos remelexos dos movimentos das mãos e pés nas funções do instrumento.

No teclado superior, com a mão direita e dedos, tocava num conjunto de notas, o soprano e o contralto, com o teclado inferior, a mão esquerda e dedos, tenor e baixo, fechando o conjunto com os pés. O esquerdo, arrematando com outras notas no baixo, e o pé direito, controlando o pedal do volume.

Saindo depois dos vinte minutos de entoação da “meia hora”, confirmava que o tempo havia se expirado olhando no relógio de parede lateral, com uma leve elegância, vendo que o recinto estava mais frequentado.

Depois de uns três minutos, olhava em direção aos músicos para receber o sinal de início do hino da introdução no conjunto. Tocava no teclado superior a nota lá para a afinação. Láááááá´!!

Todos a postos, cordas, metais, etc, a orquestra, depois, o encarregado anunciava o número do hino a ser executado.

Era a minha vez de dar a introdução. Horas amargas, coração acelerava, mãos trêmulas, o medo de errar.

Muitas vezes, as falhas aconteciam, o terror de errar atraia o fiasco.

Mas a orquestra, quando entrava na execução do Hino, diluía o acontecido, dando amparo àquela que tocava.

A organista, de ombreiras , saia plissada, meias fumês bordadas, e saltos altos, nestes instantes, esquecia da preciosidade de sua existência, borboletando de asa dura com a fantasia que usava.

A Alma, atordoada do medo de não ser perfeita, ficava exposta à água ardente das emoções.

Ficou tudo lá trás.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 26/03/2021
Reeditado em 28/03/2021
Código do texto: T7216702
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