Medroso
Dias de medo, dias de frio. Dias em que sol até nasce, mas ele precisa de um empurrãozinho para sair. Teimoso. Fico dias a vagar por aí, divagando sobre a vida e inventando aventuras que nunca tive.
Sou medroso. Passo dias e noites trancado em casa assistindo televisão. Na tela heróis de capa e espada, montado em seus cavalos, e eu sentado no sofá fico a imaginar se fosse eu no lugar deles.
Louco é pouco, eu sei que não sou normal. Nas noites de lua cheia e céu estrelado eu saio a correr pelas ruas do meu bairro. Vou montado em minha bicicleta, com um lençol velho amarrado no pescoço e uma máscara de um carnaval lá longe. E grito a plenos pulmões palavras desconexas, divagações sem sentido.
Do lado de fora chove fraco. Tão fraquinho que mal dá para notar os pingos batendo nas telhas e escorrendo pelas paredes e deixando suas marcas.
E no ápice da loucura, onde o vento faz a curva e a gente não vê, o medo se aloja dentro de mim. Eu tento fugir às vezes, eu confesso, mas não adianta, ele sempre estará em minha companhia.
Por que tu me persegues e não deixa viver a minha vida? Por que tu me seguras e me impede de ser feliz? Trancado! É assim que eu vivo e ainda existo apenas para mim. Como é o mundo lá fora? Que gosto ele têm? É doce e salgado, é azedo e amargo e tem o cheiro agudo da tristeza ou do sabor adocicado da alegria.