As flores do jardim da casa ao lado
Naquele final de tarde de janeiro, o jovem casal resolveu olhar a casa à venda, embora soubesse que o preço estava um pouco acima de seus recursos.
E não passou despercebido o belo jardim da casa ao lado e, na vasta varanda, sentada em uma luxuosa cadeira de balanço onde também descansava uma bengala, a idosa de óculos escuros conversava animadamente com a adolescente que usava luvas e portava uma tesoura de jardim.
- O amor-perfeito e as Petúnias estão bonitas?
- Bem floridas, vó. Tem outras aqui ao lado... Lindas.
- Deve ser Vinca. Seu avô a conhecia por Maria-sem-vergonha... Exibidas o ano todo. Escolha algumas flores de cravo para repor no arranjo da sala. As que estão à sua esquerda têm que regar todo dia no verão. Tire o que for erva daninha, senão toma conta. Galhos e folhas secas também. Ainda tem dois pés de Hortência ao lado do portão?
- Tem. E dois pés de Margarida. O vovô gostava de flores tanto como a senhora?
- Vige! Era seu passatempo preferido. Tinha paixão por Orquídeas e Onze Horas. Mas não mão boa. Eu tinha. Tudo que eu plantava, vingava. E adorava quando chegava a primavera. E o outono porque floresce o crisântemo amarelo. Lindo! Veio da China, sabia? Ele dizia que casa sem flores é o mesmo que casal sem filhos.
Os pretensos compradores trocaram olhares e sorrisos. A decisão partiu dela:
- Vamos comprar essa casa. Faremos economias. Gostei da vizinha. Primavera começa em setembro, nove meses... Também teremos nosso jardim.