As muitas de mim

Há alguns anos minha vida virou, rapidamente coisas aconteceram,

a vida tomou as próprias rédeas e me obrigou a ir por outros caminhos,

foram sucessivas perdas, entre um choro e outro... era como tentar consertar duas torneiras quebradas ao mesmo tempo pra cicatrizar uma ferida eu teria que deixar a outra aberta, e então a dor jorrava.

Assim eu soube que nem tudo será mas que está sendo, e nessa descoberta eu descobri em mim coisas que não queria mas me deparei com um ser interno, que não importa o que aconteça, não importa se está cambaleando ou faltando uma parte pois ela levanta mais uma vez, se põe de pé e recomeça.

Eu sou muito grata por ela, que também sou eu, eu esse que as vezes esqueço mas ela sempre me lembra, a criança está aqui, a guerreira está aqui, a anciã conselheira também.

Seguimos juntas, um único ser para o mundo externo, mas internamente uma junção de variáveis seres.

Lembrei da criança que fui, sentada na calçada da Vó, esperando numa ansiedade que se repetia diariamente, a Mãe voltar do trabalho e surgir na esquina, era o sinal de que a tarde estava chegando ao fim e que enfim eu iria pra minha casa e estaria na companhia das duas pessoas que me faziam sentir-se segura: meus pais.

A noite eu sentia medo do escuro e saia correndo pra cama deles, o meio era o lugar seguro, fosse dos pensamentos ruins, fantasmas ou pessoas más, mas podia ser também a falta: tanta falta sentia deles o dia inteiro, só nos sobrava a noite, talvez eu quisesse aproveitar de mais momentos.

Se fosse possível voltar no tempo, eu olharia nos olhos daquela criança e diria: "muitas coisas irão acontecer, muitas coisas das quais você não irá gostar, não tente driblar a todo custo o que irá sentir, mas procure aprender ao máximo com todas as dores, de forma sábia"