Eu, a vó, missas e visitas ao cemitério.
A minha vó me ensinou a fazer o sinal da cruz e a rezar.
Ela me obrigava a ir nas missas, cuja parte esperada ardentemente por mim era quando o padre dizia:
- Ide em paz e o Senhor vos acompanhe.
Oh, glória, levantar os magros joelhos já vermelhos de tanto ajoelhar e sair para o sol da minha doce cidade de Triunfo!
Ah, mas as procissões, a vó sempre de preto com um véu cobrindo a cabeça, eram uma festa! Caminhar pelas ruas entoando as cantorias coroadas com muitos améns!
Mas o que eu gostava mesmo eram as visitas ao cemitério, onde repousavam e ainda repousam todos os seus amores, meus antepassados.
Sempre de preto ou petit pois, impecável, asseada, e séria, ela levava um balde, um pano e flores frescas colhidas nos seus jardins.
Seguíamos de mãos dadas, quase sempre eu saltitando ao seu lado, pelas ruas pacatas e quase desertas.
No cemitério, antigo, lindo, cheio de túmulos brancos no solo plantados, e com anjos de olhar longínquos enfeitados, o ritual se repetia.
Enquanto ela pegava água da torneira para encher o balde e iniciar a limpeza dos túmulos, eu brincava entre os túmulos, admirando as fotos de lápides desbotadas, e me encantando com os anjos contra o céu azul da cidade encantada.
Só depois de concluída a limpeza caprichada, depois de depositar as flores carinhosamente sobre seus amores sepultados, ela me chamava para rezar.
Obediente, eu ajoelhava na laje dura e fria, de novo, joelhos castigados, e repetia com ela as orações, imaginando que nos túmulos as pessoas das fotos desbotadas estariam ouvindo e gostando.
Estava então acabado o ritual, e voltávamos para a casa, onde um lanche gostoso me esperava invariavelmente, um mimo com muito amor preparado.
Hoje minha vó cuida de mim lá do céu, habita um túmulo que visito sempre, mas nossos passos, ah, nossos passos pelas ruas encantadas da minha cidade, estão marcados para sempre, nem os ventos de todos os tempos removerão nossas marcas naqueles pagos.