Fractal Espelho (BVIW)

Ele levantou-se da sua poltrona de couro e fechou a janela da sala de sua biblioteca, pois começa a chover. Pensamentos também choviam em sua brilhante e indecifrável mente. “Dr. Simão Bacamarte” gostava muito de ler e reler livros de medicina e, principalmente, de psiquiatria. Mas, nesse fim de tarde em especial e instigante, a companhia silenciosa das páginas não lhe trazia respostas às suas perguntas.

Assim, inquieto permanecia e ao olhar seu reflexo no enigmático espelho sentiu-se como um menino angustiado que ao perder a última peça de um quebra - cabeças, não consegue terminar de montá-lo... Estava acostumado a observar as pessoas e de certa forma, todas apresentavam algum tipo de desequilíbrio... depois de seu perspicaz diagnóstico as internava na “Casa Verde”(manicômio). Ah, esses duelos travados entre a sanidade e a loucura, o certo o errado, o prazer e a dor, amor e ódio inspiram confissões no divã.

O “Alienista” olhou-se, novamente no espelho: escritor e personagem mesclaram-se numa simbiose apaixonante e num, quase, delírio literário por se considerar perfeito, diante das suas escolhas e atitudes e por saber que a perfeição não existe, ele, num impulso quebra o espelho seu fractal divã...

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Texto inspirado no conto “O Alienista”, do genial Machado de Assis (1882).