A conta.

Estávamos no "patetas bar" (nunca havia me sentido em um lugar cujo nome expressasse de maneira tão explicita a forma como me sentia ao lado dela), tomamos alguns drinks , o que me fez esquecer que aquele dia a carteira estava com alguns poucos trocados.
Escrevi "aquele dia" para não especificar ou ficar acabrunhado de dizer que naquela fase da vida, todos os dias a grana era contada e a economia de poucos centavos que fossem já representava muito no final de cada mês, pois eram parcos os rendimentos obtidos.
Tanto que nem mesmo havia a possibilidade de ter cartão de crédito. Como alguém com economias reduzidas iria se aventurar a ter cartão de crédito? Havia o enorme risco de ficar com o nome sujo na praça.
Senti uma enorme apreensão quando veio o cardápio e ela sem titubear e  entender as minhas limitações financeiras, pediu logo o prato mais caro do lugar. O que me fez ficar ainda mais tenso diante daquela situação.
Pensava que uma noite inesquecível ao lado daquela rara beleza não poderia ser marcada por tamanho constrangimento de não poder arcar com a despesa no "patetas", nem tão pouco me transformar em um.
Usei todo conhecimento matemático ao passar os olhos pelos valores dos pedidos feitos, e disfarçadamente disse que iria ao "toillete", onde com as mãos tremulas abri a carteira para fazer a conferência, checando o que de fato teria  para fechar aquele "prejuizo".
Pouco tempo depois ao solicitar a conta, mais calmo, notei que seria no limite para o acerto final.
Tal fato provocou imenso alívio e satisfação, com a certeza do que constava no bolso, vi que ainda sobravaria a importância de um real.
Assim que o garçom chegou, ainda pude com um ar de superioridade de quem está seguro, coloquei literalmente, todo o dinheiro no anexo para o pagamento da despesa e imponente exclamei em alto e bom tom:
-Pode ficar com o troco.