Covid19 - E se me matares com os teus beijos?

"Dedico este conto ao mundo! Sim, à todas as pessoas no mundo, porque a luta contra o novo coronavírus é uma luta de todos. Só venceremos se estivermos unidos. Contribua com pequenos gestos, doe materiais alimentos, faça voluntariados, fique em casa!"

[...]

— Ah! Esses chineses comem tudo o que se mexe. Eu duvido que esse vírus faça aqui um estrago como este! — disse Kwamy, para o amigo Irineu.

— Coronavírus? Até o nome parece uma piada! Como raios funciona essa doença?

— Irineu, pelo que andei a ver ontem nas notícias, é uma doença do tracto respiratório, altamente infecciosa. É transmitida de humano para humano, através de microgotas respiratórias e salivas produzidas ao espirrar, tossir e falar.

— Mano, se eu vir um chinês tossir, dou-lhe um soco dos dentes, não lhes mandei comerem tudo o que se mexe!

Irineu falava e movimentava os punhos fechados,  mostrando ao amigo a letalidade do golpe.

Os dois companheiros riam daquilo, enquanto se dirigiam à estação do Oriente. Estava um clima fresco e frio naquela manhã, ambos trajavam roupas quentes, gorros e luvas. Os minutos haviam passado tão rápido, os dois ficaram distraídos na conversa, naquele quiosque enquanto comiam o mata-bicho e olhavam as pessoas à volta. Algunas usavam máscaras, o que para aqueles dois amigos representava um autêntico exagero e mais motivos de insultos e gargalhadas. Nem viram o tempo voar. O comboio havia chegado, entraram e sentaram-se no mesmo lugar.

Kwamy Ricardino, angolano, engenheiro de instrumentalização de uma das empresas petrolíferas conceituadas do mercado angolano, encontrava-se em gozo de férias em Lisboa, desde o dia vinte e oito de Fevereiro de 2020. Tinha viajado com um amigo e colega de trabalho, uma viagem de férias de trinta dias. Os dois companheiros pretendiam começar por Lisboa, alguns dias na casa de um amigo em comum no Porto e, posteriormente, partir para Madrid, Paris, gozando do espaço Schengen.

No dia treze de Março, em meio às notícias do covid-19 que dizimava centenas de pessoas em Whuan, com alguns casos positivos nos países europeus, inclusive Portugal, eles compraram os bilhetes e apanharam o comboio suburbano para Porto.

Viajaram por algumas horas, fizeram inúmeras paragens desde Oriente, Sacavém, Póvoa, Alverca, Santarém, Aveiro e finalmente chegaram a Porto-Campanhã. Havia uma vista agradável de se ver, no norte de Portugal, ao longo do caminho. Zonas verdes, a névoa sobre o céu cinzento e fresco, vilas isoladas e bem ordenadas. Aquela aparência do mato fazia lembrar o interior de Angola nos tempos de inverno, só que com casas mais modernas e melhor organizadas.

Tiago, o amigo, estava à espera deles, na paragem de destino, ali em Porto-Campanhã. Logo que os viu, levantou as mãos a sinalizar para que fosse notado.

— Sejam bem-vindos, chavalos! Então, curtiram a viagem? — Indagou, enquanto os abraçava calorosamente.

— Na boa, mano! Então, tu? Sempre a fumar? Isso vai dar cabo de ti! — disse Irineu em tom de ironia, enquanto ria e encarava o rosto magro do amigo.

— Manos, isto aqui está todo fodido! Já ouviram a nova? Uma pandemia! Agora é que vamos morrer todos! — frisou Tiago, servindo-se do seu sarcasmo.

— Então, se estás todo cagado, por quê não estás a usar máscaras como o resto do pessoal? — indagou Kwamy.

— Eu? Estou a combatê-lo com fumo, mano! Então não dizem que o vírus não suporta temperaturas altas? — comentou Tiago, enquanto dava outra baforada no cigarro e esfregava no cinzeiro público que se encontrava ao lado.

Depois dali, os amigos foram para a residência de Tiago, acomodaram-se e deram continuidade à odisseia; discotecas, bebidas, construções antigas, faziam parte do recreio.

O Tiago tinha 37 anos, era solteiro, engenheiro de informática e viveu um bom tempo em Angola, trabalhava na mesma empresa onde os dois amigos trabalham até então. No final de 2018, Tiago mudou-se para Portugal e decidiu abrir o seu próprio negócio, investindo em consultoria. Foi em Angola onde os três amigos cultivaram boas amizades.

Na primeira quinzena de Março, Portugal tinha registado 331 casos positivos, dos quais, uma morte. Uma boa parte dos Países europeus, dentre os quais, Espanha e Itália, países vizinhos, os números de vítimas não paravam de aumentar, todos os dias. O que fez com que aqueles dois amigos entrassem em pânico.

— Tiago. Andamos a pensar e decidimos interromper as nossas férias de imediato, amanhã mesmo faremos tudo para pegar o voo para Angola, ouvimos rumores de que ali não há nada desse vírus e por causa do clima não é provável que chegue — disse Kwamy, naquela manhã de segunda-feira.

No dia seguinte, trataram das passagens, pagaram as referidas multas, apesar de terem passado quase o dia todo na agência de viagem, pois, a procura pelo regresso a Angola havia quadruplicado do dia para a noite. Ninguém falava de outra coisa, em todos os lugares por onde passavam, seja no café, ou bares, a conversa era a mesma, tudo era sobre o novo coronavírus. E cada vez mais, os cuidados para o não contágio aumentavam, inclusive os dois amigos que estavam a fazer piadas com aquela doença, usavam máscaras onde quer que fossem.

— Lave as mãos com sabão, frequentemente ou desinfecte com álcool em gel… Não devem levar as mãos à boca, nariz ou olhos. Assegurem-se de os lavar primeiro! Evitem o contacto pessoal! — dizia um activista na rua onde passavam, servindo-se de um megafone.

*

No dia 19 de Março, por volta das 9 horas, acabaram de aterrissar no aeroporto internacional 4 de Fevereiro. Havia uma enchente em todo o aeroporto, pessoas vindo de todos os lados e não haviam ordens para fazer o desembarque.

— Todos os passageiros que acabaram de vir de Portugal, Itália, China… zonas de alto risco do covid19, vão directamente para a quarentena — apelou um oficial do Serviço de Migração e Estrangeiros.

— Senhores... estamos aqui há muito tempo, e se todos vamos para a quarentena, por quê a filha do Senhor Ministro foi chamada a sair? — questionaram os passageiros.

— Vimos o presidente do partido Fuma sair normalmente, isso não se faz! Todos somos angolanos. Merecemos igual tratamento! — diziam, enquanto outros exibiam os seus passaportes para fundamentarem o seu patriotismo.

Naquele momento, Kwamy, Irineu e os demais populares meteram-se naquela confusão, todos reivindicavam a liberdade, defendiam que não deveriam ir em quarentena institucional, sendo que não deram o mesmo tratamento às pessoas que eles achavam ser os privilegiados. Em meio ao tumulto e faltas de respeito, até o jornalista Salú Gonçalves e demais nomes da nossa média televisiva, também receberam tratamento de pessoas inferiores. Estes filmavam, faziam directos nas redes sociais, xingavam e cantavam. Os internautas, partilhavam, outros contestavam e questionavam tais atitudes.

— Vocês não foram a Portugal em busca de uma vida melhor? Agora estão a vir mais fazer o quê?

— Que ficassem mesmo lá, vão só nos trazer doença! — diziam revoltados.

Havia no mesmo grupo, uma senhora com uma criança pequena desmaiada ao colo, ela implorava para que lhe fosse dada prioridade, mas de nada servia. Os funcionários do aeroporto mantinham-se ali, faziam correntes para travarem os passageiros,àa espera de segundas ordens, as tais ordens superiores.

*

Sabe-se que levou o dia todo, aquela confusão. No final de tudo, recomendaram a todos que haviam chegado naquele dia, que cumprissem a dourada quarentena domiciliar. Os dois amigos, homens de família, resolveram cumprir a fio aquelas recomendações.

*

Lweji, estava apavorada em casa a preparar a chegada do marido que vinha de um país de risco. Nos dias anteriores, ela ficava ligada à toda a notícia do mundo e particularmente de Portugal onde o marido estava em gozo de férias. Orava todos os dias para que o mesmo não ficasse entre as vítimas. Quando no dia 18 de Março, o esposo telefonou para ela a dizer que havia conseguido o bilhete de passagem de volta, ficou muito alegre e, ao mesmo tempo, tensa. Pois, ela sabia muito bem que o Kwamy chegaria no grupo de risco e poderia ser encaminhado directamente para Calumbo, onde o governo estava a enviar as pessoas que vinham da China.

— Se ele não for enviado em quarentena no Calumbo ou Barra do Kwanza, vai estar de quarentena aqui neste quarto, não posso arriscar a minha vida e dos meus filhos só por causa dos caprichos de um marido vagabundo! — proferiu decidida, enquanto transportava algumas coisas para o quarto de hóspedes.

No mesmo dia, às 22 horas, Kwamy chegou em casa e tocou a campainha. Mesmo logo na entrada do condomínio, dois dos guardas olhavam para ele com aquele ar desconfiado, dirigiam palavras, mas mantinham distância.

“Pelo menos aqui já têm noção do perigo dessa doença, isso é um factor importante”, pensou.

Lweji abriu a porta. Ela carregava um bidão de cloro, uma bacia com água e um frasco de álcool para pulverizar o esposo antes de entrar em casa.

— Boa noite, querido marido! — saudou com rispidez, mantendo a distância.

— Toma, tira toda a roupa e coloca nessa banheira. Borrife este álcool nos sapatos e vai directamente para o nosso quarto, vais ficar lá durante 15 dias! O jantar já está no quarto e por favor, não peça mais nada, tem tudo lá, sei muito bem como é esta doença. Estou bem informada! — falou, dando meia volta e dirigindo-se para o interior da residência.

— Amor... vou entrar de boxer? — indagou Kwamy.

— Os meninos estão a dormir, qual é o medo? Deverias ter medo da covid19, deverias ter voltado logo de imediato, antes de Portugal registar casos positivos!

— Mas, assim eu iria adivinhar?

A esposa já nem se deu ao trabalho de ouvir, deixando o marido a resmungar da recepção militar da sua amada.

No dia vinte de Março, Kwamy estava a completar as primeiras 24 horas de quarentena, sem contacto directo com a filha Chisola de 2 anos de idade e o Alukenu de seis. Por motivos de segurança, aquela porta da suíte era mantida sempre trancada. O pai e os filhos faziam gestos separados pelo vidro da porta, algumas vezes conversavam ao telemóvel.

— Mas mãe, por quê não podemos entrar e brincar com o pai? — perguntou Alukenu.

— Filho… é para a vossa saúde! Na próxima semana o pai já poderá abraçar e falar connosco — respondeu Lweji, enquanto mostrava um ligeiro sorriso ao marido do outro lado da porta que a observava sem poder fazer nada.

Mais tarde, corriam rumores nas redes sociais e num website de informações sobre covid-19, que Angola havia registado o primeiro caso positivo, o pânico entre as pessoas tinha sido instalado.

— Mas o nosso sistema de saúde não está preparado, vai ser uma desgraça das grandes! Vamos todos morrer! — diziam os populares.

Foi preciso o representante da OMS no país, fazer circular um áudio pelo WhatsApp, acalmando as pessoas, dizendo que haviam divulgado resultados falsos.

“Não há razões para alarmes, Angola até agora não registou caso algum! E só o Ministério da Saúde de Angola e a OMS estão autorizados a divulgar resultados de covid19”,  dizia aquele representante.

Naqueles dias, vários testes estavam a ser realizados às pessoas que apresentavam altas suspeitas. No dia 21, ao meio-dia, o Governo de Angola anunciou em conferência de imprensa, o seu primeiro caso positivo.

— Acabaram de anunciar, já temos um caso. Viste o tamanho da vossa irresponsabilidade? Vocês que gostam de se armar em boss, que não podem passar as férias aqui perto, em Benguela ou Bala Nguimbo, agora vão nos matar a todos! — disse Lweji, do outro lado da porta de vidro apontando para o marido com o dedo indicador, este permanecia em pé a olhar para ela sem tecer uma única palavra.

A Lweji xingou o marido como se tivesse sido ele quem tomou a decisão de trazer todos os passageiros para Angola nas últimas horas. Naquele dia, Kwamy mal comeu, ficou mal disposto e sem vontade para mais nada.

— Essa merda de doença é mais séria do eu pensava! — sussurrou Kwamy.

Naquela noite, ele foi para cama, tenso, desconfiando de si mesmo. Volta e meia escutava os seus movimentos, a sua actividade motora a fim de controlar seu estado de saúde. Desconfiava de cada sensação estranha no seu corpo, estava apavorado, a sensação de ter sido infectado deixava-o perturbado.

No dia 22, Angola confirma mais um caso positivo e dezenas de milhares de mortes são anunciadas nos países da Europa e da Ásia. Começa o pânico no mundo, os economistas temem pelas suas fortunas, os cientistas e governantes de todo o mundo entram na corrida para encontrarem a cura. Alguns aproveitam-se do momento para ganhar notoriedade e cimentar a sua liderança nos países do mundo, prometendo toneladas de dinheiro a entidades que encontrassem o milagre da cura, com a promessa de autenticá-los em nome das suas nações. Dá-se início a uma campanha de acusações entre os estados.

— Foram os chineses, eles não avisaram a tempo!

— Eles ignoraram os primeiros casos e os apelos dos médicos sobre a gravidade daquele vírus!

— Foram os americanos, eles querem reduzir a população mundial, eles se acham os donos do mundo!

— Foram as tropas de Trump que trouxeram o vírus aqui em Hubei!

Diziam disparates, cada um dos representantes destes e daqueles governos. Kwamy, entediado e apavorado, acompanhava as notícias pela TV e pelas redes sociais, chegava a passar-se com a atitude desses tais presidentes que se dizem grandes líderes mundiais, mas suas atitudes desmascaram tamanha imaturidade. Um momento importantíssimo para as pessoas de todo o mundo estarem unidas e vencerem essa pandemia, juntas, ao invés de perderem tempo com acusações, infâmias e jogos sujos.

— Primeiro tratemos de sobreviver, depois podem voltar às brigas das economias mais fortes do planeta! — disse Kwamy, aborrecido com o duelo que se assistia.

No quarto dia de quarentena domiciliar, aquele casal fraquejou com as medidas de prevenção. Naquela noite, às vinte e duas horas, ambos conversavam pelo WhatsApp, cada um no seu quarto, trocavam carinhos, textos de amor, de saudades, nudes… Volvido alguns minutos, Lweji levantou do seu quarto, vestindo apenas sua a roupa interior e ficou parada naquela porta. O esposo, já ali estava em pé fazia tempo, queria encurtar a distância, sentir-se perto da amada enquanto trocavam mensagens. O mesmo morria de vontade de quebrar as regras, queria ignorar tudo e correr nos braços da amada.

Aquela mulher encostou as mãos no vidro, o marido fez o mesmo, fixando uma mão em direcção à outra, como se estivessem a tocar-se. Eles desejavam-se e entreolharam-se, sem proferir uma única palavra. O Kwamy estava de tronco nu, usava apenas um calção preto, um atentado àquela mulher que desde os dias que começaram os apelos a nível nacional, cumpria com rigor todas as medidas. Estava prestes a cometer uma transgressão, uma atitude que lhe podia custar muito caro.

O marido, enfraquecido, desarmado com a formosura da amada Lweji, destrancou a porta e abriu-a ligeiramente.

— E se nos beijássemos apenas essa noite? — indagou, Kwamy.

A esposa fitou-o em câmara-lenta, de cima a baixo, contorceu-se e mordiscou os lábios. Sorriu levemente para o esposo, inspirou, respirou profundamente e, de seguida, questionou: — E se me matares com os teus beijos?

— E se me matares com as tuas carícias, o teu toque? E se estiveres doente e nos contaminares a todos? Não pensas na tua família? Não tens pena dos teus filhos? Idiota!

Ela puxou rapidamente a porta e voltou para o seu quarto, completamente revoltada. O parceiro, por sua vez, sorriu e voltou a trancar a porta. Desligou a TV e foi deitar-se.

“Quem entende as mulheres?”— meditou.

No dia seguinte o jovem acordou com uma crise de tosse. Tossia de forma estranha e sentia irritação na garganta. Rapidamente solicitou a sua amada um sumo de limão que lhe fora entregue minutos depois. No fim do dia, a crise voltou, tossia tanto e fazia febres altas, a noitinha mal conseguia respirar. Decidiram então ligar para 111, o número de emergência ao covid19.

Uma hora depois, chegou não só a ambulância, assim como forças as policiais que levaram aquela família sob custódia.

Cinco dias depois, os testes feitos ao Kwamy deram positivos, no total eram já cinco casos confirmados de covid19 no país e, para o seu espanto, na UTI encontrou o seu amigo Irineu gravíssimo, era também um dos casos e pelo que Kwamy teve conhecimento, Irineu já estava naquela unidade hospitalar, três dias antes dele.

Havia o corre-corre dos profissionais de saúde, de um lado para o outro. Máquinas, macas, testes, luzes, ruídos, o cheiro forte dos medicamentos, pessoas a se afastarem deles como se fossem bichos. Médicos despiram-se de todo o ensinamento deontológico e foram invadidos pelo medo de encarar os pacientes infectados, com bravura.

— Não posso julgar, quem não teme pela vida? — Kwamy questionou-se no silêncio, enquanto jazia naquela cama, conectado a vários equipamentos de monitoramento, respirando sobre uma fenda. Ele contorcia-se de dores e desconfortos que nenhum calmante conseguia amenizar.

Kwamy olhava para os médicos que estavam a tratar deles, todos equipados com fatos especiais como se estivessem numa missão em Marte. Doravante, vinham Ministros, pessoas de grandes responsabilidades no governo, faziam vistorias e pediam relatórios.

Tinha sido declarado estado de emergência, era uma paralisação total. Kwamy e os outros pacientes da mesma natureza naquela sala ficavam cada vez mais apavorados, temiam por suas vidas e as das suas famílias. Ao contrário de Kwamy, muitos deles não cumpriram à risca as recomendações, aqueles gritavam, zumbiam, lamentavam às noites e chamavam por nomes dos seus familiares.

***

Após se consumar o resultado dos testes do marido, Lweji e os filhos foram enviados à quarentena no Kilamba. Eram centenas de pessoas naquele centro de confinamento e aquela mulher temia pela vida do marido, dela e dos filhos. Doravante, questionava-se, se não tinha se descuidado ao ponto de ter um simples contacto com o marido que permitisse o contágio.

— Até passarem os 14 dias, não saberei ao certo. Entrego tudo nas mãos de Deus — disse pra si mesma Lweji.

Havia uma série de protestos nas redes sociais, uns achavam a medida de estado de emergência muito precipitada, outros defendiam que o estado tinha antes que criar condições financeiras e sociais para as pessoas com menos posses conseguirem sobreviver os tais 15 dias de confinamento.

Havia mesmo em toda a cidade de Luanda, principalmente, populares teimosos que não cumpriam os apelos para ficarem em casa e diminuírem o aglomerado de pessoas. A polícia e as Forças Armadas foram obrigadas a tomarem medidas extremas para obrigarem-nas a ficarem em casa…

No centro de quarentena do Calumbo, os citadinos clamavam por condições melhores, estavam cansados dos enlatados e das camas sem mosquiteiros, faziam vídeos pela internet, pediam socorro…

*

Três dias depois do internamento de Kwamy, dois pacientes perderam as suas vidas, por conta daquele maldito vírus, Irineu foi uma das vítimas. O amigo chorou em prantos por dias. Os testes que haviam feito para ambas as famílias, dias depois, haviam dado negativos. Lweji aguardava esperançosa pela recuperação do marido.

A família de Irineu não teve a mesma sorte, tinham acabado de perder um pai, esposo, irmão, tio, uma pessoa muito querida no seio deles. O pior de tudo é que nem podiam vê-lo e nem encostar no seu caixão após a sua morte, nem puderam dizer adeus.

Quinze dias depois, Kwamy tinha vencido totalmente aquela doença, Angola tinha declarado finalmente o primeiro paciente recuperado, uma alegria para o país e para aquela família em particular, uma mulher que vai rever o seu esposo e curar as feridas da saudade, uma criança que vai, finalmente, dar aquele abraço ao pai que há muito lhe foi adiado…

Fim

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Lucas Cassule
Enviado por Lucas Cassule em 25/02/2021
Reeditado em 10/08/2021
Código do texto: T7192937
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