A novidade - BVIW
Uma tempestade formou-se no céu da pacata cidade de Correntina, um vendaval de casacos e sombrinhas à mostra, como se fosse um desfile de inverno em Nova York. Dona Lindinha não saia do quarto há anos, mas procurou por seu sapatinho que não era de cristal, couro de jibóia, impermeável e démodé. Na vitrine viva, as comadres exibiam roupas com cheiro de naftalina, arranjo de traça e teia de aranha. Foi quando Artemildes viu a comadre Lindinha arrastando-se na calçada da lama. - Comadre, conte-me alguma novidade. É você mesmo? E Dona Lindinha respondeu: - A novidade é essa nossa intimidade. Não, é uma miragem. E desde quando sou sua comadre? Que mulher idiota, minha nossa senhora das cobras! E todas riram, menos Artemildes. – Comadre, você continua amarga, sem filtro e infeliz. Dona Lindinha veio com tudo, estava cansada da abordagem nada agradável. – Sua égua! Tomadora de parte, me respeite! Vou cortar sua língua maledicente! Kenga! Artemildes parecendo ignorar as ofensas, retrucou: - Te conheço? Que loucura, do nada, essa mulher surtou. Quando a chuva passou, as duas senhoras foram recolhidas para o asilo. Aos domingos, elas podiam passear pela avenida acompanhadas de parentes e amigos. Uma tinha mal de Alzhaimer, a outra, síndrome de Tourette.