CHUVA HUMANA? - BVIW

Os homens correm em carros, aviões e motocicletas. Fazem festas. Correm também por ruelas e becos. Mas o grande terror é Seu Melô que bebe toda quinta no buteco da beira. Atravessa pisando como dono do mundo na ida. Acho que vai como um bandeirante em busca de glória e volta fracassado, sem história, espalhando temor e revolta. 

Naquela noite ele esperou passar a chuva para voltar. E começamos a correria. Como bandeirante com passos firmes, temos a previsão de suas pisadas, não representa grande ameaça, mas quando volta da beira, aquele gigante em pedaços pisa adoidado. E já tinha pisado em nossa mãe ratina. Coitada! Já estava tão magrinha.

- Rino! Acode aqui! Mãe ratina está muito ferida. E antes de Rino acudir, Ratoado sentia que lhe esmagavam o rabinho sob galocha. Já não sabia se gritava ou se rezava. Avistava o grandalhão escorregando feito um patife lançado ao chão, mas era só um pobre homem sem corrimão.

- Ratoado, onde está você! Também não tenho como lhe socorrer! E logo em seguida o maior dos temores da rataiada. Uma rajada de vômito seguida de outra e mais outra, a pior das enchentes já sofridas, infectando a todos com a virótica desconhecida, que ao fim do conto, deixa todos sem vida. Idosos ou recém-nascidos, até os ratinhos cadeirantes do asilo.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 23/02/2021
Reeditado em 23/02/2021
Código do texto: T7191264
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