LUZ E SOMBRA

Em uma boate de luxo, de acompanhantes de executivos e milionários, Leopoldo está ocupando uma mesa e assistindo um show. Vê uma linda garota e fica olhando para ela, encantado com sua beleza. Chama o garçom e pede para ele dizer a ela que quer conhecê-la

Laura chega até ele:

-Boa noite! Você quer falar comigo?

Leopoldo diz:

-Boa noite! Quero conhecê-la. Sente-se.

Laura senta-se e sorri para ele.

-De perto você é ainda mais linda. E que sorriso! Você é espetacular. Qual o seu nome?

-Laura.

-O meu nome é Leopoldo. É um prazer conhecê-la.

Laura sorri e fica em silêncio.

-Bebe alguma coisa? (chamando o garçom)

Laura fala para o garçom:

-Um drink de morango com champanhe. (piscando para ele que já sabe que é sem álcool).

-Você é muito refinada, elegante e tão novinha. Pode me dizer sua idade?

-Isto importa?

-Não. Apenas curiosidade.

-Tenho vinte anos.

-E por que escolheu trabalhar nesta atividade?

-Não escolhi. Foi necessidade. Maldade de algumas pessoas. Falta de opção. Sobrevivência

-Conta para mim quem foi capaz de fez maldade com uma pessoa tão delicada.

-Não faz parte do pacote falar sobre minha vida.

-Desculpe. Não quis ser indelicado ou indiscreto.

-Tudo bem.

O tempo vai passando e Leopoldo continua conversando com Laura. Ela vai ficando impaciente e diz.

-Escuta. Você vai querer ficar comigo? Ou posso me retirar.

-Eu estou com você. Seria indelicado você me deixar aqui sozinho.

-É que eu trabalho por hora e se ficar aqui sem trabalhar não vou faturar.

-Se estou tomando o seu tempo, vou pagar por ele.

-Assim, sem…nada.

-Sim. Assim sem nada. Não está gostando de conversar comigo? Estou lhe entediando?

-Não. Estou gostando de lhe ouvir. Você é um homem inteligente e interessante. Estou amando você me falar sobre artes, livros, história, música.

-Isto é uma ironia?

-Não. Eu amo ler e amo estes assuntos que você domina. Estou aprendendo muito com você.

-É sério? Gosta destes assuntos mesmo? E gosta de ler?

-A leitura é quase uma fuga para mim. Esqueço de minhas vicissitudes.

-E são muitas as vicissitudes?

-Algumas…

-Desculpe! Estou sendo indiscreto novamente, não é?

-Não. Tudo bem.

-Que tipo de livro você gosta de ler?

-Romances, literatura em geral, história, história da arte. Gosto de ler sobre a história dos povos. Tudo que for bom eu gosto de ler.

-Você me parece uma garota muito inteligente. Além de ser belíssima, muito elegante e fina.

Laura fica calada.

-Estou sendo repetitivo, não é?

-Considero que sou inteligente sim. E sempre gostei de ler.

-Uma mulher lindíssima, tão jovem, culta e inteligente. Não é muito comum.

-Isto é preconceito. Não combina com sua inteligência e nível intelectual.

-Desculpe. Acho que hoje estou um tanto indelicado, Não sou sempre assim.

Laura fica calada.

-Laura, Laura. Estamos aqui conversando há mais de três horas. Sou bastante prolixo e quando encontro alguém que se interessa pelo que falo, ai eu perco a noção da hora. Gostei muito de conversar com você. Vou lhe dar um livro que fala sobre a história da colonização das Américas. Acho que você vai gostar. É o mais completo que já vi até hoje e não é daqueles livros cansativos.

-Você vai me dar?

-Sim. Por que o espanto? Você não gosta deste tipo de assunto?

-Sim, gosto muito.

-Então, eu admiro e valorizo muito uma pessoa que gosta de leitura, de história e artes.

-Você pode nem me ver mais.

-Você não está sempre por aqui? Eu venho às vezes assistir shows mas nunca havia lhe visto

-Estou aqui há pouco tempo. Eu só fico aqui.

-Ótimo. Eu quero lhe ver novamente. Na terça eu lhe vejo. Pode ser? Quero exclusividade do seu tempo. Pago por esta exclusividade. Se conseguir encontrar, eu lhe trago o livro na terça.

-Os homens que aparecem aqui são, quanto mais ricos, mais arrogantes e só querem nos usar. Você parece ser muito diferente.

Leopoldo diz sorrindo:

-Entendo.

Ele paga sua conta e diz a ela.

-Vamos acertar a nossa conta?

-Não posso cobrar. Você me paga só a comissão que tenho que pagar.

-Negativo. Tomei seu tempo e não fiquei com você porque não quis.

Ele paga, se despede e vai embora.

Leopoldo chega e olha o ambiente procurando Laura. Acomoda-se em uma mesa e chama o garçom. Pede uma bebida e pede ao garçom para avisar Laura que ele está lá.

Laura chega:

-Oi! Não é que você veio mesmo?

-Eu disse que viria. Sente-se. Estou tomando um drinque. Bebe alguma coisa?

-Um drinque de morango com champanhe. (o garçom chega, Leopoldo faz o pedido e ela pisca para o garçom que entende o recado).

-Aqui está o presente que lhe prometi.

Laura sorri:

-Nossa! Pensei que nem se lembraria mais disto. Não é sempre que se encontra homens como você. Sei que vou amar o livro. Posso abrir?

-Prefiro que você abra num lugar mais reservado. Vamos terminar esta bebida e vamos sair daqui, pode ser?

- Claro. Pode ser.

Leila e Leopoldo estão numa suite.

Leopoldo diz:

-Agora pode abrir seu presente.

Laura abre o embrulho:

-Que linda edição! Nossa! Vou amar

Leopoldo diz sorrindo para ela:

-Espero

Laura fica olhando para ele e aguardando a sua iniciativa. Ele olhando para ela, pergunta:

-Posso lhe despir?

-Precisa pedir? Acho que estamos aqui para isto, não é?

-Sim. Mas antes eu preciso lhe dizer uma coisa.

-Pois diga. Ah! esqueci de lhe dizer minhas condições: não aceito beijo na boca nem sexo anal. Sexo oral só com uso de camisinha e só transo com se você usar camisinha. Se não lhe agradar ainda estamos em tempo de desfazer nosso negócio.

Leopoldo olha para ela com um sorriso e diz:

-Calma, lady. Eu preciso lhe falar antes de mais nada.

- Pois fale.

- Bem, é que, que…

- Quê?

- Laura, eu sou impotente. Não tenho ereção. Nunca tive. Sofri um acidente quando ainda era muito novo e perdi a capacidade de ter ereção.

Laura olha com espanto:

-E por que estamos aqui então? O que espera de mim? Quer me despir para quê?

-Para olhar para você. Você é muito linda. Queria lhe pedir uma coisa. Se você não se importar.

-O que é?

-Você pode se masturbar para eu ver você gozando?

-Que idéia. Não costumo me masturbar. Nem sei se conseguiria fazer isto com você me olhando.

-Hoje passei num sexshop e comprei este brinquedinho. Vai lhe ajudar. Você faz isto por mim?

-Nunca imaginei passar por tal situação. E nunca usei este tipo de brinquedinho.

-Se você não quiser, não tem problema. Mas eu posso acariciar seu corpo? Beijar seus seios? Seu corpo todo? Isto me faz muito bem.

-Bom, eu estou aqui para lhe atender. Podemos tentar, não sei se vamos ter muito sucesso. Você está me pagando para eu lhe dar prazer.

Leopoldo começa a tirar a roupa de Laura. Depois se despe também. Começa a acariciar o corpo dela.

Leopoldo e Leila estão nus deitados na cama abraçados. Ele diz:

-Obrigado, Laura, por me entender e fazer o que lhe pedi. Estou me sentindo muito bem. Que bom ficar aqui juntinho com você. Eu sou muito solitário. Não tenho mais meus pais. O meu único irmão mora na França e já tem mais de cinco anos que não o vejo. Raramente a gente se fala por telefone. Tenho pouquíssimos amigos que estão ocupados com o trabalho ou com a família. Quando lhe vi e conversei com você, fiquei encantado com sua beleza, com sua classe, com sua inteligência. Gosto de conversar com você e de saber que você gosta de me ouvir. Gostaria de passar pelo menos duas noites por semana com você. Você aceita esta situação.

-É um tanto inusitada esta situação, mas se é o que lhe deixa feliz, eu estou aqui para agradá-lo. Você me paga por isto. Sabe que nunca tinha usado um brinquedinho erótico?Mas eu me acostumo.

-Não precisa lembrar que você só está fazendo isto por dinheiro. Prefiro pensar que tenho um pouco do seu carinho. E que a gente pode conversar. Uma conversa inteligente.

-Vou gostar muito de conversar com você. Sei que vou aprender muito.

Leopoldo aperta-a em seus braços. Podemos combinar terça e sexta? Quero exclusividade nestes dias.

-Não acha que é muito dinheiro prá torrar assim, por tão pouco?

-Pagaria até mais. Tenho muito dinheiro e tão poucas alegrias. Estou feliz por estar aqui com você. Sentindo uma paz de estar em seus braços. Sentindo que estes momentos de prazer e leveza estão dando sentido à minha vida tão vazia de emoções. Isto não tem preço. E não é pouco.

-Você sentiu prazer em me ver masturbando?

-Meu prazer é muito limitado, mas me senti bem em ver você gemendo de prazer. Senti prazer e alegria em lhe tocar, em beijar seu corpo. Contemplar sua beleza.

-É tão raro encontrar um homem assim romântico, que diz palavras tão lindas e delicadas. Você me parece muito especial.

-Fico envaidecido por você pensar assim.

-Nunca pensou em uma relação homossexual, ainda que seja com o brinquedinho erótico? Não gostaria de experimentar? Poderia lhe ajudar.

-Não sou homossexual. Isto nem me passa pela cabeça. Quero as coisas exatamente como foram hoje. Pode ser?

-Tudo bem. Se lhe faz bem, eu aceito.

-Laura, eu vou embora. Na sexta eu volto. Combinado?

- Sim.

Ele faz o pagamento, dá um beijo na testa dela e vai sair. Volta e diz:

-Quero lhe pedir uma coisa. Você é muito linda. Não precisa de tanta maquiagem. Posso lhe ver de rosto limpo na sexta?

- Pode ser.

- Tchau, meu anjo.

- Tchau.

Ele sai e ela pensa: “É cada uma. Mas tenho pena dele e de mim também. Odeio estes homens nojentos e grosseiros me tocando. Misericórdia de Deus este homem ter aparecido na minha vida.”

Levanta-se, toma uma banho demorado e vai embora para seu apartamento. Dorme como um anjo. Sente-se feliz por ter encontrado aquele homem tão gentil e infeliz. Sabe que vai colocar um pouco de alegria na vida dele e que sua vida vai ficar mais fácil e tolerável. E sua rotina continua…

Leopoldo chega em sua mansão. Uma casa linda e luxuosa mas cheia de solidão e amargura. Vazia de vida. Pensa na jovialidade, vivacidade e beleza de Laura e sorri.

Sabe que ela vai trazer alegria, cor, brilho e luz para sua vida tão monótona, sombria e infeliz…

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 22/02/2021
Reeditado em 14/05/2023
Código do texto: T7190484
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