Perfume de lavanda
Afanada sem pudores de um bonito vaso ornamental, da pequenina muda de alfazema eu desacreditei. Querida dos franceses acostumados a esconder seus odores com gotas generosas de óleo de lavanda, a desfolhada muda foi plantada junto ao parente e não menos cheiroso alecrim. E todos os dias, religiosamente, eu regava as mudas, acrescentava terra e adubo conforme precisavam. O alecrim prosperava além do esperado, mas a alfazema, coitada, resistia, lutando bravamente para sobreviver, ainda verde, mas raquítica e desacreditada.
E assim se passaram dias, meses, o alecrim conforme o previsto tomou conta de quase todo o vaso, prosseguia firme e fazendo jus ao título de rei do pedaço. E a alfazema? E não é que a gringa timidamente se rompia? Devagarzinho, é verdade, mas aos pouco a pequenina muda se vestia de confiança e conquistava o seu pequeno espaço e enchendo de esperança o meu coração que se encantava com a sua luta pela sobrevivência. E comecei a acreditar naquela muda de alfazema.
Até que dia uma bonita surpresa me aguardava. Enquanto molhava as plantinhas percebi que a desacreditada muda começara a florir. Miúdas florzinhas despontavam graciosas de um portentoso pendão, roxas como o outono que se anunciava, pincelando com seus tons frios a aquarela de minh’alma.
E assim é a nossa vida, que também possamos acreditar em nosso desabrochar! Que nada nos impeça de crer que podemos crescer, melhorar e conquistar o nosso lugar ao sol, mesmo nas mais sombrias condições. E se ninguém acreditar acredite! Pois afinal a batalha é sua!
E assim me descobri alfazema, planta que luta bravamente para sobreviver sem jamais perder sua essência.