Estava sob o céu azul. Nuvens transparentes esfumaçavam minhas ideias.
O azul mentiroso e reflexivo combinava com minha cianose explícita. Tentava esquecer a dor, a saudade e, principalmente, a culpa. Que derramava sobre a alma um manto pesado e quente. As palavras fugiram para o infinito e, no silêncio retumbante, a ausência ainda reverberava. Não havia amizade. Não havia afeto. Não havia vínculos, nem instintos. Somos animais acuados num planeta aquoso. E, alguns nem sabem nadar. Migramos de lugar para outro, procurando nos achar, ou quem sabe, justificar nossa sobrevivência sofrida e minguada. O medo é a sombra de uma consciência pesada. Por valores assassinados em pleno meio-dia.
Chorava lágrimas azuis e frias, pois sabia das limitações em interferir na realidade. Sabia que ter aquele afeto distinto e discreto, desprovido de manifestações públicas e preguices do gênero era apenas reticente. Estávamos todos diante do infinito, do improvável, mas sobreviver com alguma dignidade ainda era preciso. Deitei, apaguei as luzes, suspirei fundo para buscar alguns sonhos para acalentar mais um noite a espreita de toda humanidade. Por fim, durmi.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 13/02/2021
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