Homem do molotov "pt. 2"

Saio a noite com uma garrafa de 300mls, pois cabe no bolso da minha jaqueta, pela minha rua as coisas estão tranquilas, eu diria; dou uma volta no quarteirão procurando qualquer amontoado de gente festejando não sei o quê, quando começo a ouvir uma música tocando, viro uma rua seguindo o som, a rua vai ficando mais deserta, faz sentido querer ficar mais escondido, mesmo de maneira porca, ainda existem multas, eles não querem arriscar. O barulho vem da última casa, da garagem, tem até uma luz azul de balada, os portões fechados, permaneço parado por dois minutos defronte a casa, ninguém sai, pego a garrafa e o isqueiro, olho para o espaço no topo do portão; ascendo o molotov, respiro fundo e atiro a garrafa que ainda bate levemente no ferro da extremidade da abertura, quase que instantaneamente escuto os gritos, me afasto a passos acelerados, mas sem correr, viro a rua e então caminho normalmente, não vi qualquer sinal de que alguém reparou, ou se importa… Caminho até a minha casa.

Ligo a TV e procuro nos jornais se alguém fala sobre o que aconteceu, para a minha quase surpresa não havia nada, mas as notícias sobre festas clandestinas continuam, mais mil e duzentas mortes.

Decido sair mais uma noite, a primeira claramente não foi o suficiente, para nada. Desta vez levo uma garrafa convencional, ando com os ouvidos atentos para me direcionar, até que um som me chama atenção, não é música, apesar de ter ritmo, escuto louvores, faço o mesmo da primeira noite, sigo o som, as vozes, desta vez a rua não é tão deserta assim, chego até uma garagem, um daqueles cultos improvisados, seguindo o exemplo do pessoal festeiro o portão está fechado, deixando apenas uns trinta centímetros pra fechar completamente. Repeti o ritual, esperei por dois minutos, não diminuiu os louvores, pego a garrafa e ascendo, atiro a no mesmo espaço no topo, desta vez foi direto… E então os gritos. Ando apressadamente para não chamar atenção, consigo me afastar, desta vez, eu não olho para conferir nada, só quero chegar em casa.

Após conferir as notícias novamente e confirmar que não teve mudança em nada, um cansaço me ocorreu, apesar da adrenalina, talvez as coisas não fizessem tanto sentido assim. Decido por um fim nisso tudo, ao menos para mim.

Saio, vou até o AMA fazer um exame, digo que é para uma viagem, para o sábado de manhã, então daria o tempo certo para pegar o resultado no dia anterior, crio um grupo com amigos e digo que darei uma festa na minha casa, para trazer bebidas, será na sexta a noite, compro algumas bebidas guardo-as, encho as garrafas vazias no canto com o óleo e a gasolina, encho outras com álcool mesmo, preparo um coquetel molotov e deixo guardado, escondida num canto, deixo passar os dias. Sexta-feira a noite, minha casa está cheia, a música alta, meus amigos e conhecidos, todos bêbados, passo trancando as janelas, para quem pergunta, digo que é para evitar os vizinhos, coloco a minha mochila com roupas numa sacola preta para passar desapercebida, com a minha mochila do lado de fora, eu pego o molotov, ascendo e jogo nas garrafas causando uma pequena explosão, saio e tranco a porta… Vou em direção a um hotel, desta vez, eu corro.

Logo cedo, eu vou no posto pegar o meu resultado, no que a enfermeira olha para mim é diz que houve um pequeno engano e que deveriam ter me ligado, meu resultado deu positivo.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 11/02/2021
Código do texto: T7181621
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